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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

MATEUS DE ALBUQUERQUE

 

Matheus de Albuquerque (Porto Calvo, AL, 1880 – Petrópolis, RJ, 1967). Foi um poeta alagoano.

Diplomata, cônsul do Brasil em Cádiz, Espanha, conselheiro comercial na Embaixada do Brasil em Madri. Deixou extensa bibliografia em prosa e verso. Publicou, entre outras obras: Visionário (poesia, 1908), Crônicas Contemporâneas (crônicas, 1913), A Juventude de Anselmo Torres (romance, 1923). Várias de suas produções poéticas foram traduzidas para o francês pelo poeta Henri Allorge.

 

SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes: Editora Guararapes EGM, s.d.  154 p.  16,5 x 11       cm.  ilus. col.  Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

AVELAR, Romeu de.  Coletânea de poetas alagoanos.   Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959.  278 p.   Encadernado. 
No. 08 717                                   Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 


             RESSURREIÇÃO

Sombras em turbilhão, sinistros pesadelos,
Cadáveres de sonho, imagens de agonia,
Em luta pelo fim de amores e desvelos.
Eu, ao vê-los passar, ou chorava ou gemia.

Eram tristes legiões desfilando em surdina,
Na escampa solidão, na paz do campo santo,
Onde, em fogo maldito, a cólera divina
Amortalhou meu sonho e me cobriu de espanto...

Como louca avalanche, a rolar das montanhas,
Amplas searas em flor, riquíssimas, devasta,
Varreu do meu oásis, em convulsões tamanhas
Os pomos de ouro fina a torrente nefasta.

Desceram sobre mim, vindas de escuras plagas,
Num cortejo infernal de bárbaros guerreiros,
Tropas pedindo sangue, hastes lançando pragas
Ao castelo da fé dos sonhos derradeiros.

Aos vermelhos pendões de guerra desfraldados
Em terra e sobre o mar, à flor de alvas espumas,
As turbas varonis, em cânticos e brados,
Marcharam no esplendor das lanças e das plumas.

E por toda a extensão dessa encantada terra
De pomares em flor, de límpidas cascatas,
Retumbaram, cantando, as buzinas de guerra,
Do coração do oceano ao coração das matas.

Fogo — subindo o espaço em rútilas serpentes!
Sangue — banhando a terra em dilúvios vermelhos!
Ah! céus, rígidos céus! Ficastes inclemente
Às súplicas que então vos dirigi de joelhos!

Castelos de cristal de transparente alvura,
Que a alegria do sol, cantando, iluminava;
Monumentos varando a limpidez da altura.
Soberbos nas manhãs de luz serena e flava;

Muralhas e torrões, tesouros e mesquitas.
Dourados bergantins de flâmulas ao vento;
Valses primaveris, florestas infinitas
Com raízes de luz como as do firmamento;

Todo o régio fulgor das finas maravilhas,
Que o sonho a levantar passara tantos anos,
Tudo a onda varreu, como de estranhas ilhas
Reinos de pompa austral varrem mares insanos!

Raivosas, enchendo o ar de clavas e alfanges,
De incêndios ao clarão, ao reboar das trombetas,
Venceram tudo, enviando, as ríspidas falanges,
Aos desterros sem fim rebanhos de calcetas...

Estrangulando a paz dos meus dias tristonhos,
Deixaram-me sem luz os feros invasores,
E eu despira da treva a túnica dos sonhos,
E eu rasgara na terra o cirma dos amores.

Sobre as ruínas, então, que o solo amortalhavam,
Pois que era um campo santo o meu país formoso,
Em surdina de angústia, as sombras desfilavam,
À noite, sobre o luar de névoas, doloroso...

E eu, ao vê-las passar — visões contristadoras
Dos meus dias de amor, das esperanças mortas —
Bradava ao céu pedindo as graças redentoras,
E o céu, ao meu clamor, trancava as áureas portas.

Chegaste! E, à tua vinda, as asas desdobrando
No azul, e às mãos trazendo uns rútilos diademas,
De anjos, sobre nós dois, baixou ruidoso bando,
Entre nuvens de aroma e irradiações de gema...

— Ressurgir! Ressurgir! dos sonhos, em revoada,
Bradou dentro de mim a turba áurea e divina,
Bendita sejas tu que arrancaste do nada
Este mundo ideal que ao sol já se ilumina!

Olha! por toda a parte a fortuna de outrora
As grandes portas abre aos palácios festivos;
Vibra, em coro marcial, a música da aurora,
Zumbe um enxame, no ar, de galas e atrativos.

Vê: ontem era treva este império bendito,
De onde agora o fulgor de um noivado se alteia;
Na sagração do amor imaculado, infinito,
Este domínio azul, celestial, pompeia.

Eis o nosso universo, onde o infortúnio cessa
E renasce da vida a glória soberana!
Cantam rios de sol na terra da Promessa
E dos sonhos triunfais desfila a caravana.

Ostentemos, divina, aos olhos deslumbrados
Do mundo, este esplendor de paz indefinida!
Vamos, dentro da luz, unidos e sagrados
Pelos beijos do amor, glorificando a vida!



                         AS FLORESTAS

Entro, como num templo, o seio das florestas...
A feição de quem, traz um mundo sobre os ombros,
Meu ser, que tem o porte esguio das arestas,
Pára ante esta mudez de trágicos assombros!

O perpétuo rumor dos risos e das festas,
Longe, nas multidões cheia de desassombros,
Canta, unido ao bramir das cóleras funestas
Dos que passam na vida em meio só de escombros.

E aqui, esta opulência, estas árvores santas,
Esta fecundidade intérmina da plantas,
Onde não chega o pó de humanas romarias!      

       Alma! em face do mundo onde em vão te exasperas,
Blinda-te recordando as primitivas eras,
Na eloqüente mudez das florestas sombrias!

 

*
Página ampliada e republicada em março de 2024.


 

 

Página publicada em julho de 2018


 

 

 
 
 
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