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MARIA JUCÁ MOREIRA

 

1867-1895

 

 

Maria Jucá Moreira Lima?  Nasceu em Maceió, em 1867 e faleceu em 1895. Colaborou nos principais periódicos e almanaques da Província e de outros Estados. Pela sua ativi-dade literária, tudo leva a crer que a poetisa era nome de grande realce nas letras alagoanas,  no século passado. Filha do poeta Cipião Jucá e de d. Ana Maria Guerra Jucá.
ROMEU DE AVELAR

 

 

DE SONHO EM SONHO

 

De flor em flor, as próvidas abelhas,
Ébrias do rocio em lúcidas empolas,
Vão dos jardins nas ideais corbelhas
Sugar o mel das virginais corolas.

E ora beijam as castas verdeselhas.
 Ora imergem no seio das papoulas,
Sobre o corpo a luzir, com as centelhas
Do pólen fulvo as áureas latejoulas.

 

Da veiga lirial do pensamento,

Irisada de um puro sentimento,

Nossa alma, assim também, com o mesmo ardor,

No aflito anseio de um porvir risonho,
Irrequieta vai, de sonho em sonho.
Como as abelhas vão de flor em flor.

 

 

AS TRÊS FLORES DA ALMA

 

A primeira é de alvura não sonhada...

Tudo que é santo abriga, imaculada,

Sua corola imensa.

Quando transborda o cálix da amargura,

Minh'alma numa prece se depura,

Cresce a rosa da Crença.

Quando por mim em lágrimas banhada

De minha mãe a face descorada

Eu cinjo ao coração,

Divina, casta, cérula, amorosa,

Nasce em meu seio a flor mais odorosa,

A flor da Gratidão.

 

E quanto as ilusões são dissipadas

E as rosas dos amores desfolhadas

Em triste soledade,

Consoladora, olente, doce e calma

Inda uma flor desabrocha na minh'alma,

O lírio da Saudade!

 

 

 

A MENSAGEIRA – Revista literária dedicada à mulher brasileira. VOLUME II.  São Paulo. SP: Imprensa Oficial do Estaddo S.A. IMESP.   Edição fac-similar.  246 p.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Flôres d´alma

«Se o vento um dia lhes soprar e as córte,
Deus! — da-me a sorte de morrer com ellas.»    
                                                                       Thomax Ribeiro

Na veiga d'alma — perfumosa e pura —
Ha sempre, em caules de ideal verdura,
Rosas cheias de olôr;
Rorejadas de límpidas chimeras,
Abrem a luz de rubras primaveras
— A mocidade e o amor.

Em minh' alma não brilham d'estas rosas
Porém, cândidas, tristes e mimosas
Crescem n'ella trez flôres:
Qual de Jesus a c'rôa, entre os martyrios,
Ha espinhos, ás vezes, entre os lyrios
Que acalmam minhas dores.

A primeira è de alvura não sonhada. . .
Tudo que é santo abriga immaculada
Sua corolla immensa;
Quando transborda o cálix da amargura,
Minh' alma n'uma prece se depura
Cresce a rosa da Crença.

Quando por mim em lagrimas banhada,
De minha mãe a face descorada
Eu cinjo ao coração,
Divina, casta, cérula, amorosa,
Nasce em meu seio a flôr mais olorosa
—A flor da Gratidão.

E quando as illusões são dissipadas
E as rosas dos amores desfolhadas
Em triste soledade,
Consoladora, olente, doce e calma
Inda uma flôr desbrocha na minh' alma
—O lyrio da Saudade!

 

 

                   Maceió, 30 de Setembro de 1886.

Maria Jucá

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2016; ampliada em julho de 2019

 


 

 

 
 
 
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