POESIA ALAGOANA
Coordenação de Cármen Lúcia Dantas
LUIZ GUTENBERG
Jornalista, romancista, homem da mídia de prestígio em todo o Brasil por sua sagacidade como comentarista e escritor. O Auto da Perseguição e Morte do Mateu é apresentado pelo autor como uma tragédia ou reportagem. Também. Mas é essencialmente um texto dramático de forte conotação poética, com aquela verve própria do teatro nordestino que consegue conjugar o culto com o popular, na melhor tradição da commedia del arte com apoio no conceito do cordel... Sua primeira apresentação foi em 1967, na juventude do autor e os textos a seguir foram extraídos da edição feita pela EDUFAL e CESMAC, em 2007.
AUTO DA PERSEGUIÇÃO E MORTE DO MATEU
(excertos)
*
Era uma vez,
um homem
tão forte, tão forte
e tão simples, também,
que apanhou de um anão.
Seus músculos não o deixavam brigar abaixo da cintura.
*
O Rei do Reisado berrava que o azul não existia.
O almirante repetia tudo o que o Rei dizia
e ainda o obedecia,quando ele mandava fazer alguma asneira.
E diziam loucuras, absurdos totais.
A discussão era coisa de não se poder imaginar,
Pois o Rei insistia, raivoso, em desmentir a existência do azul.
Ora, o azul era evidência, estava ali, dominando a festa, mas
o Rei não via.
Aí, o Mateu chamou a Contramestra
e mostrou que o azul existia:
o vestido dela tinha muito azul.
O Rei disse que não. Não era azul. .
*
REISADO
(Cantando e sapateando)
Mandei fazer um buquê para minha amada
Sendo ele de bonina disfarçada
Mas, tem o brilho da estrela matutina
Adeus, menina, sereno da madrugada!
*
PRIMEIRO COVEIRO
Deveis abrir, vós mesmos que trouxestes o cadáver, as pálpebras
do Mateu e, na menina-dos-olhos, tereis o que procuram:o
retrato dos matadores.
RAPAZ
Vejam todos os que aqui estão...
Rei do Reisado, Almirante de Chegança,
uns mais sabidos, outros mais poderosos,
todos hipócritas e moralistas:
eis o desafio da alma simples do povo.
É a sede de Justiça
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