POESIA BARROCA BRASILEIRA
LUÍS CANELO DE NORONHA
Nasceu em Penedo, Alagoas, nordeste do Brasil em 1689.
Político e poeta. Foi Capitão da Ordenança dos Estudantes da Bahia, Senador, membro da Academia Brasílica dos Esquecidos (1724-1725).
Nos “Documentos históricos – Cartas, alvarás, provisões e patentes” vol XLIII, de 1 de janeiro de 1720, de Braggio & Reis, reproduzido pelo Ministério da Educação e Saúde / Biblioteca Nacional informa:
“Em Carta- Patente do posto de Sargento-mor de Infantaria da Ordenança do Regimento de que é Coronel Luiz da Rocha Pita ... da Companhia de Infantaria de Todos os Estudantes desta Cidade provido na pessoa de Luiz Canelo de Noronha.
A empresa da Academia, “Sol oriens in Occiduo”.
Décimas
Nascer o Sol no Ocidente,
quem jamais tal cousa viu,
se na oposição caiu
ser Sol posto, e Sol oriente?
Mas bem caiu, que um luzente
e mais gigante farol,
mostrando novo arrebol
quando aquele Sol caía,
Sol mais claro então se erguia
para ser o Sol do Sol.
Pôr o Oriente no Ocaso,
fazer do morrer nascer,
inui maior poder,
e faz assombroso o caso;
faz divina e não acaso
esta empresa, pois que assombra,
que se um Sol ao Sol assombra,
e o Sol u’a Sombra fica,
em que seja sombra rica
é do Sol o Sol a Sombra.
*
A Morte da Excelentíssima Senhora Marquesa de Santa Cruz
Soneto
Que choras Portugal? choro a Teresa:
Pois por quê? porque o pede, o meu tormento:
Que sentes? um profundo sentimento:
De quê? de se ausentar u’a beleza.
Para onde foi? subiu a sua alteza:
E que foi lá buscar? contentamento:
E que nos deixou cá? grande lamento:
E que sentes, amor? pura tristeza.
Pois, amor, não deplores tal partida,
Nem presumas que foi fatalidade
Em Teresa, tão nobre despedida;
Que como Fênix, não cedendo a idade,
Quis ao tempo usurpar a sua vida
Para dela fazer a Eternidade.
*
A Morte da Excelentíssima Senhora Marquesa de Santa Cruz
Soneto Saudoso
Destemperada Cítara, e quebrada,
Rouca voz, grave som, triste instrumento,
Suspende o canto, pára o pensamento,
Que a mente chora, e o silêncio brada!
Toda a solfa será desafinada
Se a Teresa só canta o sentimento,
Que este canta chorando o seu lamento,
E tu choras cantando, ó Musa amada.
Mas ai que delirante o teu cuidado,
Sem sentido ou cuidado em tanta mágoa,
Já de puro sentir não sente o fado!
Pois se é mar de saudade, e o peito frágua,
Brota assim já o afeto equivocado
Em dilúvios de fogo, incêndios de água.
*
Ao 2.º Assunto
Mote
É fonte Pirene amante
por amor, por fé, por zelo,
por leal, fina, e constante.
Glosa em epílogos
Quem é que corre Faetonte? – É fonte.
Que fonte é esta perene? – Pirene.
Que mais é por lacrimante? – amante.
Nesse pois Cristal undante,
que ser líquido se crê,
claramente se vê, que
é fonte Pirente amante.
Por quem chora com tal dor? – por amor.
Por amor de Cincrias é? – por fé.
É por fé tanto desvelo? – por zelo.
Por firmar do afeto o selo
nesse pranto tão gigante,
é fonte Pirene amante
por amor, por fé, por zelo.
Por que causa é fonte tal? – por leal.
Que mais é por cristalina? – fina:
Sendo fina será amante? – constante.
É logo fonte manante
por cuidado, por desvelo,
por amor, por fé, por zelo
por leal, fina e constante.
Página publicada em dezembro de 2108.
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