GEORGETTE SILVA DE OLIVEIRA MENDONÇA
(1922-2003)
Nasceu a 3 de fevereiro de 1922, no Engenho Timbó, em Atalaia, Alagoas. Formada em Comércio pelo Colégio Santa Sofia, em Garanhuns, Pernambuco e o curso de normalista do Instituto de Educação de Alagoas. Publcicou, em 1948, o livro de versos “Eu quero duas almas”.
MINHAS CARTAS DE AMOR ERRARAM SEU DESTINO
Minha alma milenária
viveu em muitas eras.
Foi Safo. . . e escreveu quimeras
quando era ainda um sonho marmóreo 0
o Pantenor multicor.
Depois, quando entrou em decadência 0
a Grécia legendária,
(mil dracmas um beijo de Laís
e o velho Sócrates não quis!)
mudou-se para o Egito
e foi Cleopatra. Suas galeras
subiram, iluminadas,
o grande rio tranquilo !
Foram tantas as cartas endereçadas
a Cesar e a Marco Antônio
que ficaram desertas de papiro
as margens do Nilo!
Foi Marceline Desbore-Valmore
enchendo de lirismo e de beleza
as praias de Martinica e os campos de França! 0
Escrevendo com certeza
cartas ingênuas de criança
e doces cartas de adolescente ...
Minha alma toda meiguice e ternura
foi muitas mulheres belas
e redigiu com elas
poemas de amor e desventura.
Depois, então,
vieram as cartas ardentes,
vibrantes, frementes,
apaixonadas e loucas,
cantando, em seu canto tumultuário,
a epopeia de duas bocas
e a tragédia de um coração !
Mas. . . foi um homem mercenário
(como todos os homens que conheço agora),
quem recebeu todas as cartas de amor
que minha alma escreveu outrora!
Não sei mesmo porque estranho desatino
minhas cartas de amor erraram sempre o seu destino !
POETAS BRASILEIROS DE HOJE 1985. Rio de Janeiro: Shogum Ed. e Arte, 1985. 114 p. Ex. doado pelo livreiro Brito (DF)
PESSIMISMO
Debrucei minha saudade
sobre lembranças do passado.
Não havia risos de infância.
Nem inocência.
Nem adolescência,
nas crianças uniformizadas,
numeradas,
acovardadas.
Debrucei minha saudade
sobre lembranças do passado.
Não havia mãos comovidas
acenando despedidas.
Nem olhos recitando para os
meus poemas de adeus.
Debrucei minha saudade
sobre lembranças do passado.
Apenas sonhos extraviados
entre anseios desencontrados.
Apenas esperanças
desesperançadas, malogradas,
sucumbindo no cansaço.
E a cada passo
na roda do tempo
o tempo movendo a vida.
E a vida correndo
numa corrida
deseenfreiada.
E tudo que era bom se
diluindo, morrendo,
sumindo
dentro do Nada.
[ CAVALCANTI, Valdemar, org. ] 14 POETAS ALAGOANOS . POEMAS ESCOLHIDOS. Maceió: Edição do Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura, 1974.
44 p. 14 x 20,5 cm. Ex. doado pelo livreiro José Jorge Leite
de Brito
LIÇÃO DE ASTRONOMIA
Não importa que os caminhos
por onde trilho
sejam sáfaros, estéreis, desertos.
Não importa que haja espinhos
ofuscando o brilho
dos atalhos recém-abertos.
Nada importa. Nada importa
se tu me ensinas o nome das estrelas.
Inclusive daquela que é morta
há milênios. Grande Ursa. Ursa menor.
Polar, Cisne, Delfim...
(deita a cabeça no meu ombro, assim.
Vês o losango da Plêiades, amor?)
Agora, Orion — as três Marias —
Uma estrela cadente
desaba do céu de repente.
(depressa, meu amor, um desejo!)
E o doce rumor do meu beijo
morreu em tua boca ardente.
Eu bem sei que foi um desatino.
Mas pra que esperar as profecias
se não acreditamos nelas?!
E que importa o destino do meu Destino
se tu me ensinas o nome das estrelas?!
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
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Página ampliada e republicada em março de 2023
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Página ampliada em outubro de 2021
Página publicada em outubro de 2015
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