FRANCISCO VALOIS
Nasceu em Maceió em 4 de junho de 1932. “Poeta de expressão lírica”, na opinião de Gilberto de Macedo. Autor de primorosos sonetos e haicais.
Soneto a Rosa da Manhã Nascente
Da fuligem do tempo entardecido,
emerge a rosa da manhã nascente:
— plenilúnio de agosto acontecido
vogante pelo espaço opalescente.
No canteiro do olhar anoitecido,
— fonte de orvalho puro e permanente —
opaliza-se a rosa e, renascido
o tempo, um novo mundo se pressente:
(dissimulado, o sol poreja sangue
e, no pálio do céu, a lua exangue
vela a noite da infância adolescida)
— é que a rosa de cor avermelhada
transfigurou-se em flor purificada
nascente na manhã azulecida.
Muro
Meus olhos
no latejante brilho das pedras
são dois peixes dentro da lâmpada
No pátio
o vento toca realejo na folhagem
— Além sou eu me reproduzindo em mim mesmo.
Das nuvens rebentam seios das amadas
adormecidas na praia
(Entre os meus dedos
as horas se escorrem líquidas)
Impossível ser pássaro
riscar no céu
num voo incontido
e retornar à infância sem horizontes.
Soneto da Ausência
Busquei em ti a fonte de meu sonho
mas eras flor feita da noite escura,
brotada de um efêmero sorriso
que se foi no volver da madrugada.
À sombra do que fomos, curvo a fronte
e reluzes em negro pensamento.
Egressa das ausências tua imagem e
reflui os meus silêncios homicidas.
Revivo meus fantasmas invioláveis
recriando despedidas e diálogos
nos canteiros estéreis da memória.
Fitando o que não és, nestes instantes,
Somos seres perdidos no abandono
no encontro de um momento nunca eterno.
Página publicada em outubro de 2015
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