FLORA FURTADO
Flora Furtado, alagoana, morava em Recife antes de se fixar no Rio de Janeiro, no final de 1970. Publicou Navegação dos sentidos (1997) e A morosa caligrafia (2003), participou da coletânea de poesia Caixa de prismas (Imago, 1992) e publicou poemas na revista Poesia sempre da Biblioteca Nacional e na Inimigo Rumor
.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista da Biblioteca Nacional do RJ. Ano 3 – Número 5 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Solário
Não sei que estranheza me detém
na familiaridade do cáctus
com o chumbo arenoso das pedras
Pote estrelado de espinhos:
água para os rigores do clima
Eremita da paisagem, apega-se
à pedra que vira aparador
convite ao toque
Ele é pleno e repele a mão
***
Árvore
Acúmulo de pó e sonho,
fervor do tempo. Vertical
declinas tortos horizontes
figuras fulgurações
Umbigo ubíquo emblema
língua de fogo anfíbia
fala extrema
Sonda augúrio e fenda
febre da seiva suga
escuro: estranha
Todo fruto é contenção
Página publicada em dezembro de 2017
|