FILEMON ASSUNÇÃO
Nasceu em Maceió, Alagoas, a 28 de abril de 1900. Fez seus estudos primanos e secundários em Belém do Pará, para onde se transportou, muito cedo, com a família. Estreou aos 18 anos em revistas e jornais do Pará, publicando aí tôda a sua poesia de juventude. «Noite de Insônia», um dos seus sonetos, figura na «Antologia de Poetas Paraenses»,
de Eustáquio de Azevedo (Jacques Rola). Sendo nomeado para a Administração dos Correios de Santos, trabalhou por muito tempo na «Flama» e no «Comércio de Santos». É atualmente oficial administrativo dos Correios de São Paulo.
Apesar de haver estreado prematuramente nas letras, só publicou um
livro de poesias, «Uma vela contra o mar ... » (Poemas). Prefácio de Judas Isgorogota. Ilustrações de Messias. Ed. Elvino Focai. São Paulo, 1951.
Extraído de AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm.
A ÁGUA DO CHAFARIZ
Ali, naquela praça aprazível e discreta,
Eu vou sempre assistir,
Nestas manhãs azuis de primavera,
À legião anônima e humilde dos passantes
Que vai beber a água do chafariz ...
E fico horas inteiras absorto,
Escutando o rumor, a cantiga sonora
Da água branca, tão branca e tão útil,
Que a sede dos passantes desaltera.
Ah ! se eu pudesse ser aquela água !
Ah ! se eu pudesse ser aquele chafariz !
Não teria, Senhor, remorsos e esta magoa
De passar pela vida, inútil e infeliz ...
REMORSO
Embora, minha mãe, o teu cabelo
Tome a cor da neblina e do luar,
E os teus olhos, nevoentos e sem brilho,
Sejam fontes de pranto a gotejar,
Continuas a ser para teu filho
Essa mesma boníssima criatura,
Pródiga de cuidados e de zelo.
Tua cabeça vai aos poucos branquejando.
Que pena ver tão branco o teu cabelo!
Minha Nossa Senhora da Amargura,
Rainha incomparável do desvelo,
Mais uma vez teu dúlcido perdão:
Para aumentar a minha desventura,
Não sei porque me diz o coração
Que eu sou unicamente o causador
De ficar teu cabelo dessa cor ...
NUMA TARDE COMO A DE HOJE
Numa tarde como a de hoje,
De sol e de céu escampo,
Quisera ir com Eunice
Na barca da Cantareira,
Atravessar a baía
Num passeio a Niterói...
Nada de mãos agarradas,
Nem de olhos dentro dos olhos,
Em situações equívocas ...
Apenas ouvir Eunice
Com seu sotaque cantante
Elogiar a paisagem ...
Numa tarde como a de hoje,
De céu alto e transparente,
Quisera ir com Eunice
Na "Cubango" ou na "Terceira"
Ou outra barca qualquer
Atravessar a baía,
Num passeio a Niterói ...
Nada de saltar em terra
E percorrer a cidade:
Retornar na mesma barca
Para nova travessia ...
A barca bem vagarosa,
Cortando a esteira espelhante
Das águas da Guanabara.
Eu, calada; a irmão, calada;
A mãe, calada também,
Mas todos deliciados,
Ouvindo Eunice elogiar,
Com seu sotaque cantante
A beleza da paisagem...
Página publicada em novembro de 2015
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