FERNANDO MENDES DE OLIVEIRA MENDONÇA
(1895 - ?? )
Estreou muito jovem no jornalismo da província, sendo, sem favor nenhum, uma das mais poderosas inteligências no cenário literário de Alagoas de 1919 a 1930. Estudou no «Colégio 15 de Março», matriculando-se mais tarde na Faculdade de Direito do Recife, cujo curso abandonou logo no primeiro ano. Temperamento visceralmente boêmio, deixou resvalar pelas mãos três gordas heranças. Poeta, e dos maiores de sua geração, como também cintilante cronista, abandonou de vez toda a sua atividade literária, transferindo-se para o Rio de Janeiro, logo após a Revolução de 30, onde ingressou na Polícia Civil do Distrito Federal. É hoje, infelizmente, um nome desconhecido da nova geração intelectual de Alagoas.
Nasceu a 2 de junho de 1895, no Pilar. Filho do negociante Francisco Mendes da Fonseca, já falecido.
PULVIS
Levantei-a do pó. Formosa e triste.
Dei-lhe o meu braço e ela ficou sorrindo.
Seu sorriso de flor era o mais lindo
Que, nestes campos, por ventura, existe.
Ao brilho do meu nome foi subindo ...
Tudo, perplexo, ao seu primor assiste.
E eu murmurava férvido: - subiste !
Fica-me, agora, erguidamente ouvindo.
Olha este céu de pérola e cobalto!
Aqui, façamos nosso alegre ninho ...
E ela, sozinha, quis subir mais alto.
Subiu, vaidosa, numa verde chama ...
Porém, sem meu amparo e meu carinho,
Tombou de novo, rápida, na lama ...
A ÚLTIMA SEREIA
O que tu és, não sei!
Mistério, reticência em minha vida,
O que aturde minh'alma incompreendida,
O que procuro e nunca encontrarei.
ó fazes-me de vez perder o juízo
Com os teus as saltos cruéis de amor eterno !
Queres-me conduzir ao paraíso
Pela estrada do inferno.
E eu, apesar de mim, fico enlevado,
Preso e jungido à tua pulcritude.
Por que a tua alma círcica me ilude?
Que grande mal te fiz?
Por que me complicares nessa trama?
Abandona-me ! Deixa-me feliz!
Ê desgraçado todo aquele que ama !
Vais-me chamar de doido e de cretino
Porque te digo estas verdades tais ;
Porém teu peito é pérfido e assassino
E os teus olhos são fúlgidos punhais ...
Hoje fujo às ciladas dos amores,
Embora estranhos os motivos aches ...
Amei: perdi-me em vagalhões de dores,
Foram-me os corações negros apaches ...
Podes vociferar contra a minh'alma,
Chama-me os nomes feios que quiseres ...
Não perderei mais nunca a minha calma
Para matar caprichos de mulheres!
Vai deturpar outro homem, desgraçar
Outro peito inocente que não este !
Há quanto tempo que deixei de amar!
Por isto, o tempo atrás de mim perdeste.
Prossegue, feiticeira, o teu caminho:
Apupa-me de rude e de covarde ...
Que me importa o tufão de ódio e escarninho?
A culpa é tua que chegaste tarde!
Quantas chegaram, noutros tempos rindo,
E, como tu, sereias, me prenderam ...
Depois partiram, loucas, me ferindo
Em vis acintes que me confrangeram !
O meu peito não mais se martiriza
Aos golpes da paixão,
Basta a saudade de Maria Luiza :
- Flor de veneno! estrela da ilusão!-
As promessas e juras que me fazes,
Escuto-as meditando
Que já as ouviram todos os rapazes
De quem vives, colérica, falando ...
Nada mais me comove! Tem certeza.
Enche-me todo verde pessimismo.
Sempre é um retoque cínico a beleza,
E o carinho um requinte de cinismo ...
Eu sei lá! eu sei lá se ainda te amasse!
Fora melhor que o mundo
Sobre mim desabasse
Por um gesto benévolo e fecundo !
É muito tarde, adeus ! Foge de mim!
Deixa-me em paz viver com os sonhos meus.
Que mais esperas que te diga, enfim?
Foge de mim! É muito tarde! Adeus!
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
PULVIS
Levantei-a do pó. Formosa e triste.
Dei-lhe o meu braço e ele ficou sorrindo.
Seu sorriso de flor era o mais lindo
Que, nestes campos, por ventura, existe.
Ao brilho do meu nome foi subindo
Tudo, perplexo, ao seu primor assiste,
E eu murmurava fervido: — subsiste!
Fica-me, agora, erguidamente ouvindo.
Olha este céu de pérola e cobalto!
Aqui, façamos nosso alegre ninho...
E ela, sozinha, quis subir mais alto.
Subiu, vaidosa, numa verde chama...
Porém, sem meu amparo e meu carinho,
Tombou de novo, rápida, na lama...
A ÚLTIMA SEREIA
O que tu és, não sei!
Mistério, reticência, em minha vida,
O que procuro e nunca encontrarei.
O faz-me de vez perder o juízo
Com os teus assaltos cruéis da amor eterno!
Queres-me conduzir ao paraíso
Pela estrada do inferno.
E eu, apesar de mim, fico enlevado,
Preso e jungido à tua pulcritude.
Por que a tua alma círcica me ilude?
Que grande mal te fiz?
Por que me complicares nessa trama?
Abandona-me! Deixa-me feliz!
É desgraçado todo aquele que ama!
Vais-me chamar de doido e de cretino
Porque te digo estas verdades tais;
Porém teu peito é pérfido e assassino
E os teus olhos são fúlgidos punhais...
Hoje fujo às ciladas dos amores,
Embora estranhos os motivos aches...
Amei: perdi-me em vagalhões de dores,
Foram-me os corações negros apaches...
Podes vociferar contra a minh´alma,
Chama-me os nomes feios que quiseres...
Não perderei mais nunca a minha calma
Para matar caprichos de mulheres!
Vai deturpar outro homem, desgraçar
Outro peito inocente que não este!
Há quanto tempo que deixei de amar!
Por isto, o tempo atrás de mim perdeste.
Prossegue, feiticeira, o teu caminho:
Apupa-me de rude e de covarde...
Que me importa o tufão de ódio e escarninho?
A culpa é tua que chegaste tarde!
Quantas chegaram, noutros tempos rindo,
E, como tu, sereias, me prenderam...
Depois partiram, loucas, me ferindo
Em vis acintes que me confrangeram!
O meu peito não mais se martiriza
Aos golpes da paixão,
Basta a saudade da Maria Luíza:
— Flora de veneno! Estrela da ilusão!—
As promessas e juras que me fazes,
Escuto-as meditando
Que já as ouviram todos os rapazes.
De quem vives, colérica, falando...
Nada mais me comove! Tem certeza.
Enche-me todo verde pessimismo.
Sempre é um retoque cínico a beleza,
E o carinho um requinte de cinismo...
Eu sei lá! eu sei lá se ainda te amasse!
Fora melhor que o mundo
Sobre mim desabasse
Por um gesto benévolo e fecundo!
É muito tarde, adeus! Foge de mim!
Deixa-me em paz vive com os sonhos meus.
Que mais esperas que te diga, enfim?
Foge de mim! É muito tarde! Adeus!
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Página ampliada e republicada em março de 2024.
Página publicada em novembro de 2015
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