EXPEDITO FERRAZ JÚNIOR
nasceu em Maceió (AL), mas morou em João Pessoa desde os primeiros meses de vida, até 2003, ano em que se transferiu temporariamente para Rondônia, onde iniciaria a carreira de professor universitário. A experiência na Amazônia durou cinco anos, divididos entre Porto Velho e a pequena Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia. Retornou à Paraíba em 2008. Doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2003). Possui graduação em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade Federal da Paraíba (1997) e doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (2003). Atualmente é Professor de Teoria Literária da Universidade Federal da Paraíba. Assíduo colaborador com artigos de crítica em jornais e revistas de cultura. Livros publicados: Poheresia. 1. ed. João Pessoa: A União, 2014. v. 1. 130p. e Semiótica Aplicada à Linguagem Literária. 1. ed. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012. v. 1. 83p .
Amador Ribeiro Neto diz que "Lê-se Poheresia com leveza na alma e riso maroto nos lábios. E a arquitetura dos poemas fica ainda mais bela por não se enxergar os alambrados que esconderam sua feitura. Tudo pronto, assim que é bom. E é nesta gostosura que sua poesia atinge o leitor. Seja ele um fruidor de poesia. Ou um chato-boy à caça de novidades no poema. A ambos a poesia de Expedito Ferraz Jr. seduz. Com leveza, graça e inventividade."
Poesia, segundo Expedito Ferraz Junior, é...
...Uma fêmea que se acaricia. É linguagem cujo centro é a própria linguagem. (Os assuntos, ou eferentes,podem ter maior ou menor peso num poema, mas não têm o poder de justificar a presença da poesia. Esta só se manifesta pelo retorno na linguagem sobre ela mesma).
Página preparada por SALOMÃO SOUSA.
AQUARELA QUASE TELÚRICA AO PÔR-DO-SOL DO SANHAUÁ
como se põe
a metade
iluminada
de um semáforo
submerso,
em vermelho..
quadro a
quadro..
em dégradé..
verso a
verso..
o elepê
toca a pele
do rio
e se dilui
no amarelo..
onde a canoa
tinge tudo
de bolero.
Céu de Tomie Ohtake
Que azul são azuis e não são
algo azul como um lago
como um vago,
ou vertigem,
na fuligem do céu.
Que azuis serão istos, então:
como um mata-borrão
sobre um mar congelado,
como blue note em blues
como o rastro dos astros
matizes do breu.
Que azuis serão estes, em vãos,
como lapsos da mão
sobre o negro,
como um antes azul
sob um toldo ex-
azul que des-
ceu.
O VISGO DAS COISAS
tempo em que, pra ter ensejo,
o ser das coisas carecia
de se valer d´alma dos bichos
ou de pessoa humana,
modo de se dizer
máquina-de-escrever, por exemplo:
pra quê? pra quem?
mas quando deu fé
ela sorrindo tanto dente,
muito que brancos,
foi ficando ali que ficou sendo
máquina-de-sorrir-ainda-que-todavia
guarda-chuva também, resignado,
em surdo haver de ser ave noturna,
recolhido em si mofino desalado
sem uso sem asa sem voo sem chuva sem chão
dormindo pendente no esquecido
de nunca ter sido morcego
antes a flor enlutada o agourento corvo
e nunca bengala e não sequer seu guia
dos bichos alados, porém,
o janelão era o demais vivente,
suas venezianas costelas azuis
assoviando sempre e sempre
e o grande par de asas
que se rebelava alguma vez
(mas só quando o vento suscitava, em si bemol)
como um gesto da mão responde em sestro
ao zoom da escuridão de um pensamento
e sofrendo e sofrendo a deslembrança
de um talvez antigo voo
tempo em que, por ser espelho,
o visgo das coisas padecia
mísero de luz, que é sem o que
sequer as réstias das orquídeas crescem
nem as mandalas das aranhas acontecem.
Página publicada em julho de 2017