EUDES JARBAS DE MELO
Jornalista, poeta e escritor alagoano.
Pertenceu à Assessoria de Relações Públicas do Ministério da Justiça, depois ao quadro de Advocacia Geral da União.
Publicou: “Teias de Ilusão” e “Ninhos de Rosas”, versos.
DEZ ANOS DE POESIA E UNIÃO. ANTOLOGIA 1988. Brasília: Casa do Poeta Brasileiro – Poebrás – Seção de Brasília, 1988. 226 p. 15,5x22,5 cm. Capa: pintura de Marlene Godoy Barreiros. Ex. bibl. Antonio Miranda
A FLOR
Mando-te esta flor, há de assentar-te bem...
E rogo que a tragas sempre às mãos pequenas
Não porque perfume mais que as açucenas
Ou tenha a coar que nem mesmo a rosa tem!
Mas por que, sendo ela de papel, também,
Como tu, nesta ingenuidade que encenas,
Não revela n´um ligeiro olhar apenas
O artifício que estas pétalas contêm?
Esta flor, amiga, fina mão de artista
Armou de crepom tocado em rara essência
Que se tanto engana o olfato, engana a vista.
E que ideal — suponho — ela em tua mão!
—Cada qual a mentir mais com a aparência:
A flor sem vida, tu sem o coração.
A LENDA DE ALADIM
Quem não conhece a estória de Aladim
E a lâmpada encantada que o servia
Que se tocada, em fumo de carmim,
De dentro dela um gênio aparecia?
E o poderoso e místico DJIM,
Despertado afinal, então fazia
Maravilhosas coisas e sem fim
Que só as faz a própria fantasia!
Pois esta lenda encantadora assim
Acontecia há mais de dez milênios,
Todos os dias se repete em mim...
Bastam tocar-me os olhos teus tão belos
Para meu peito rebentar em gênios
E eu ser capaz de levantar castelos!...
CONFESSO
Certa vez perguntaste se eu já te enganei
E com quem enganei... em que noite de horror?
Assim, disfarçando o embaraço em que fiquei,
Te respondi: “eu nunca te traí, amor”.
E mais te traí nesse dia, pois faltei
Com o respeito à tua ternura, ao teu candor,
À tu´alma compassiva e amiga. Jurei
Falso, (mas só jurei por íntimo temor).
Queres saber? Pois bem, eu sempre te traí,
Com todas as mulheres belas que já vi,
N´um doido amor que ainda merece o teu perdão.
És como a espécie de modelo universal,
Todas te copiam. E se eu amo o original,
Como olvidar quem seja tua imitação?
O ESTRATEGISTA
Para o velho sonhador — meu coração,
Veterano das paixões e da conquista,
Um cerco existiu que o grande estrategista
Não pôde transpor a fortificação...
Uma mulher não se rendeu à sedução
E aos assaltos e à tramas deste artista.
—E dizer que o coração, como um sofista,
Se valeu de toda dissimulação...
Mas, apesar disso, o cerco continua,
E por estas noites quando em prata, a lua
Sobre a porta desmancha seu clarão,
Volto a cercá-la com meus galanteios
E atiro contra seus tímidos receios
Balas de suspiros do meu coração...
Página publicada em outubro de 2020
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