CLOVIS DE HOLANDA CAVALCANTI
(Engenho Boa Ventura Viçosa - AL 19/9/1892 - Recife - PE 03 ou 30/7/1914). Poeta. Filho de Augusto de Holanda Cavalcanti e Francisca Casado de Holanda Cavalcanti. De 1901 a 1907, estudou em Pesqueira (PE). Em Maceió: onde chegou aos 17 anos, estudou no Colégio 15 de Março, e lá fundou, com colegas, o jornalzinho Vesta, de vida efêmera. Matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, mas falece quando está cursando o 4º ano. Romeu de Avelar o transcreveu em seu livro Coletânea de Poetas Alagoanos. Transcrito, ainda, com In Fine e Pedra, na Coletânea de Poetas Viçosenses, p. 31-33. Colaborou na imprensa, em especial no Jornal do Recife, a República, A Renascença - os dois últimos de Maceió -, Ordem e Progresso e Liga Marítima, do Rio de Janeiro, e Águia, de Portugal.
ÚLTIMA FOLHA
Poeta, se queres ser um dia dos eleitos da arte,
Para exprimir no verso o gênio que te anima,
Dobra o valor, duplica o esforço, a alma biparte,
Que o fruto do teu ser seja obra prima.
Agarra a pena, doma a ideia, prende a rima...
Pensa, cria, trabalha, executa, e, destarte,
Talha, corta, burila, esculpe, ajeita, lima
A forma, a cor, o som, para imortalizar-te.
Esquece o mundo, esquece a vida, esquece tudo...
E louco, desvairado, incompreendido, mudo,
Concentra nessa lida o teu vigor disperso.
Porém, se apesar disso o teu trabalho é frio,
Sem expressão, sem cor, sem ânimo, vazio,
Quebra a pena, por Deus! Amaldiçoa o Verso!
CONDOR
Asas soltas no espaço, as alturas buscando,
O condor vai fazer uma subida brusca.
Grande no seu desprezo ao mundo miserando.
Os páramos do azul garbosamente busca.
Voa, corta no céu, de um rasgo formidando,
A infinita amplidão que seu furor rebusca.
Vai subindo, subindo... e nem vacila quando
O sol a reluzir o seu olhar ofusca.
Voa, sobe e se perde altivamente no alto,
Olímpico, viril, sem nenhum sobressalto,
No supremo desdém de quem morre sorrindo!
Condor de sonho, audaz, quero galgar a glória...
Subir sempre, ascender, em busca da vitória...
Voar, subir mais, morrer assim subindo!
EVOCAÇÃO DO AMOR
Dói-me, às vêzes, pensar que não amo ninguém. ..
Mas, a essência do amor minh'alma não contém.
Este meu coração que vibra, que palpita
Como o seio do mar em sua ânsia infinita,
Não consegue entender o que se chama amor
E não lhe sente o gôzo e não lhe aspira o odor.
E é por isso que, à noite, a voz das coisas mudas,
Pressentindo que freme em vibrações agudas,
Quedo triste a pensar que nunca pude amar.
Lá fora, pelo espaço, alegremente, o luar
Namora a quietação da terra adormecida.
E eu lembro sem querer a vida já vivida.
Olhando o amor passar sorrindo pelo céu,
De uma estrêla à outra estrela, e, depois sob um véu
De nuvens de côr branca. A brisa, volutuosa.
Volúvel, vem beijar uma rosa e outra rosa.
O rio, calmamente, ondeante, a discorrer,
Amo como se fôsse a encarnação de um ser.
E na terra, no céu, nas flores de veludo,
O amor palpita e vibra, ardentemente, em tudo.. .
E eu não amo, eu não sorvo o dulçuroso mel!
É porque minha alma é triste, acerba como fel.
E ama o vento, ama a noite, ama a flor, ama o ramo. . .
E eu somente não amo! eu somente não amo!
Página publicada em fevereiro de 2016
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