BERNARDO DE MENDONÇA
(Praia da Avenida - Maceió, 1950) é um escritor brasileiro. Jornalista, trabalhou, entre 1969 e 1985,em redações de empresas de comunicação do Rio de Janeiro e de São Paulo: Ultima Hora, Veja, O Jornal, Opinião, Jornal da República, Rede Globo de Televisão.De 1980 a 1988, quando se demitiu, foi funcionário do atual Ministério da Cultura, nas funções de redator e editor, relançando, entre outras tarefas, a Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Passou a infância entre Alagoas, Minas e o Rio de Janeiro. Este tráfego institui a geografia de suas obras, não apenas na instância territorial, expressa com freqüência na estrada Rio-Bahia e no rio São Francisco, mas por um olhar contaminado por diferentes níveis de aprofundamento na convivência urbana: a pequena cidade do interior nas montanhas de Minas, estacionada após o declínio da economia cafeeira; a cidade média e praiana do Nordeste, afetada pela monocultura da cana-de-açúcar; e a metrópole carioca, de destino cosmopolita e pólo de atração das grandes contradições sociais do país. Do experimentalismo das microbiografias à tradição do romance em versos, seus livros dialogam com a história brasileira, sobretudo com os seus poetas - desde Ascenso Ferreira e Augusto dos Anjos, protagonistas de um duelo de identidades, a Getúlio Vargas, José de Anchieta, Mário de Andrade ou Torquato Neto, nomes reiterados - para constituir uma cosmovisão própria, contemporânea e local (de "um localismo em trânsito", na leitura de José Paulo Paes)[1], que se revela tanto no confronto constante entre vida e morte quanto nas reflexões sobre a malícia, a esperteza, o disfarce, a impostura, a ganância. Fonte: wikipedia
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De
Bernardo de Mendonça.
Os fantasmas tropicais.
Posfácio de José Paulo Paes.
Rio de Janeiro: Graphia, 2006. 142 p.
ISBN987-85-85277-53-X
Escritor experiente, com trajetória de jornalista no universo da realidade, Bernardo desenvolve uma poesia com linguagem depurada, que transita entre gêneros para construir um estilo muito singular, que José Paulo Paes aproxima de narradores que transcendem regionalismo como Ascenso Ferreira. "Poesia de resistência", insiste José Paulo Paes, sem pretender ser social e comprometido no sentido prosaico da poesia engajada de anos passados. E arremata: "Uma coisa é conceber idealmente a missão da poesia; outra ter os olhos abertos para a pragmática social que a constrange." Uma poesia vigorosa, criativa e surpreendente." A. M.
Um herói inventas,
com ele te contentas.
Um herói enterras:
escapas e sxperas —
o herói do dia
não demoraria
(só por um segundo,
um herói no mundo)
Um herói inventas,
dele te alimentas —
com amorosa fome:
alma carne alma.
Inventas e calas
o que sabes claro.
E já o desmascaras:
tudo émito e barro.
Sete prefácios
1.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(onde confessa-se o escriba.
museu e usina do lixo
de toda a lira perdida.)
2.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(o que renego mas gravo,
e, interdito, conservo
entre a mentira e o mato.)
ï-
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(esconde-se, aí, o crime?
revela-se, por fim, o nome?
que medo a mudez exprime?)
4.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(ou verá nele deitada,
como se estrada à espera,
uma presença que é falta.)
5.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(pois neste rio, ou rejeito,
vão águas de onde e quando
serás a margem e o leito.)
6.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(daqui não voltas do sonho
mais persistente e fatal.
Já não te basta acordar.)
7.
Jamais lerá o poema
quem suprimir este verso:
(nele Deus sucumbirá
ao assédio dos espelhos
e dirá, quem sabe: eu.)
Ora (direis)
duelo no ar:
um galo à beira do mar.
do galo:
o halo da noite.
do galo,
o zelo do macho.
do galo,
a fala à vera,
a ira
sonora,
do galo,
o puro regalo
de ir
do escuro
ao claro.
do galo
a goela,
agora,
a hora
h
Página publicada em junho de 2010 |