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AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (Passo de Camaragibe, 3 de maio de 1910 — Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1989) foi um lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor, ensaísta e crítico literário brasileiro. Considerado um poeta bissexto, mas de qualidade.
NOITE
Na solidão da noite
os meus olhos espiam todos os becos
Qualquer figura humana ao longe me parece do outro mundo.
Ouço conversas longínquas, indistintas
na solidão da noite.
O vento trio da praia que me dói no rosto
dá-me a impressão dum inimigo invisível.
Estou cheio de medo e de arrependimento
Imagino logo a felicidade do sossego de minha casa
Ouço na voz do mar fundos soluços
de alguém cuja inquietação estará talvez quebrando este
[sossêgo
Os meus cabelos se arrepiam :
penso que a estas horas andarão ladrões pela minha casa,
e canto do galo é um dobre de sino
Vou lançando um olhar de despedida ao caminho que se
[alonga diante de mim
ao velho caminho tão amigo
minha via-crucis de agora.
O coração bate depressa
bate estranhamente
como se estivesse dando um sinal.
E eu tenho medo de que a minha vida se confunda na noite.
SONETO
Amar-te- não por gozo da vaidade, Não movido de orgulho ou de ambição. Não à procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.
Amar-te - não por tua mocidade
—Risos, cores e luzes de verão—
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.
Amar-te por amar-te: sem agora, Sem ontem, sem futuro, sem mesquinha Esperança de amor sem causa ou rumo
Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Ex. Biblioteca de Antonio Miranda
Página publicada em outubro de 2015
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