ANTÔNIO CIPIÃO DA SILVA JUCÁ
(São Miguel dos Campos - AL 1835 - ? 12/12/1905). Teatrólogo, jornalista, funcionário público. Filho de Francisco Joaquim da Silva Jucá e Florípedes Felícia da Silva Jucá. Amanuense da Secretaria de Polícia e oficial de gabinete do governador Paulo Malta.
Obras: Harpa Desafinada, Bahia, 1860. (poesias) Melodias e Distrações, Maceió, 1871. (poesia) Diversas Poesias, Maceió, l876; Primas, 1888. (miscelânea literária) Páginas de Júlio (poesia e prosa) Os Amantes Disfarçados (comédia) Os Três Dominós (comédia) Cenas Escolares (comédia) Pelos Santos se Beijam as Pedras (comédia) representadas entre 1870 e 1876; Flores e Lágrima (romance) A Maçonaria e a Igreja, Maceió, 1871.
Colaborou em periódicos de Maceió, Lampadorama — o primeiro jornal litografado da capital alagoana — e A Semana, nos quais publicou pensamentos, poesias e curtos trabalhos literários. Após uma conferência defendendo a maçonaria e a publicação desse trabalho, a loja Oriente Unido dos Beneditinos conferiu-lhe o grau 18 da Ordem. Deixou diversos discursos como orador da Loja Maçônica. Há um poema heroico-cômico-satírico que lhe é atribuído, sob o título Bernárdidas ou a Fraude Eleitoral de Sant`Ana do Ipanema. Refere-se às eleições de 1881 para a Assembleia Geral Legislativa, em que foi diplomado o deputado Bernardo Mendonça Sobrinho, e reconhecido pela Câmara outro para ocupar o lugar. Deixou também opúsculos de propaganda espírita e panfletos de combate à religião católica.
Fonte: http://www.abcdasalagoas.com.br/
SONETO
Se tenho por calmante a paciência
Quando sinto em minh'alma ânsias mortais,
Reflito que sou pó, e que jamais
Me livrarei da humana contingência;
Se me consterno aos males da indigência.
Dessa classe infeliz, desses mortais
Que cingem trapos e que amargos ais
Exalam na misérrima existência;
Se procuro quedar os meus errores,
Descrendo da ilusão das alegrias
Oeste mundo falaz, de eternas dores;
Se a cruz abraço — o mel das agonias
— Então, ó Cristo, dá-me em teus favores
Nas crencas de meus pais findar meus dias.
NUNCA PERGUNTES
Nunca perguntes porque pobre geme,
Ou cego teme tropeçar além,
Quantos carinhos em seu peito abriga
Se dextra amiga lhe oferece alguém.
Nunca perguntes se o proscrito sente,
Da pátria ausente, lhe escapar um ai,
Sonhando afetos que deixou distante,
Quer seja amante, seja filho ou pai.
Nunca perguntes se bendiz o fado
O desgraçado que mendiga o pão;
Bem vês, amigo, que ninguém procura
Da desventura a rigorosa mão.
As variantes de crueis pesares
Que nesses mares do infortúnio há,
São rudes provas de que a espécie humana,
Vivendo ufana, na miséria está.
Quem acaso confiar, seguro,
Ser-lhe o futuro de bonança e luz,
Ante essa fôrça que devasta seres,
Mata os prazeres e aflições traduz?
Nunca perguntes por alheias crises,
Que os infelizes só merecem dó ;
Salvo se podes redimir as dores,
Os dissabores dêste humano pó.
Página publicada em outubro de 2015
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