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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÂNGELO MONTEIRO

( Pernambuco )


Ângelo Monteiro nasceu em Penedo, Alagoas, em 21 de junho de 1942. É poeta, ensaísta e filósofo. Mudou-se para Gravatá-PE ainda criança, radicando-se no Recife em 1971, onde estudou Filosofia , tornando-se professor de Estética e de Filosofia da Arte na Universidade Federal de Pernambuco, por meio de concurso público.

Poeta representativo e significativo, com uma poética inquietante e enigmática, possui obra considerável tanto na poesia como no ensaio. Publicou, de poesia, os livros Proclamação do verde (1969), Didática da esfinge (1971), Armorial de um caçador de nuvens (1971), O inquisidor (1975), O ignorado (1980, poesia em prosa), O rapto das noites ou o sol como medida (1983), O exílio de Babel (1990), As armadilhas da luz (1992), Recitação da espera (1992), Poemas de Ângelo Monteiro (1995), Os olhos da vigília (2001); publicou os ensaios Tratado da lavação da burra ou Introdução à transcendência brasileira (1986), O conhecimento do poético em Jorge de Lima (2003), e Escolha e Sobrevivência (2008).
Biografia: http://editora.cepe.com.br/autor/angelo-monteiro

 

MONTEIRO, Ângelo.  O ignorado.  São Luis do Maranhão: Print Editora, 2012.  130 p.  (Resistência Cultural - Biblioteca de poesia, 1) 13,5X21 cm. Prefácio: Ronald Robson.  Posfácio: Jessé de Almeida Primo.  “ Ângelo Monteiro “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Talvez na literatura brasileira este poema em prosa tenha, em sua feitura na confluência do ensaio, da poesia e da fábula, parentesco distante somente nos Cantos de Lúcifer (1954), de José Alcides Pinto; mas essa é obra de um possesso, enquanto este O ignorado é louvor de graça recebida. Socorrido ainda uma vez pelo ensaio clássico de T.S. Eliot sobre os metafísicos ingleses, arrisco dizer que Angelo está mais próximo dos "poetas intelectuais" que dos "poetas refletidos ou reflexivos": a integração entre conceito e expressão poética lhe ocorre, assim como àqueles, numa "apreensão sensorial direta do pensamento", não sendo só "poesia que pensa" ou, pior ainda, "poesia que quer educar", como sói ser a produção destes. Daí que a qualidade saliente deste texto é que mesmo o juízo mais analítico tenha a força de uma apreensão de dado do real em nível poético ou de tumultuadas possibilidades, o que por si só é revolta contra "a enorme façanha do nosso tempo, que é a de manter vivas cidades de homens mortos"; esses homens, sim, petrificados, incapazes de fidelidade a seus destinos, pois que "filisteus sem alma que, depois de cultivar as sílabas, passaram a cultivar ostensiva e exclusivamente a Letra".  RONALDO ROBSON

 

III

 

Estamos diante do Inelutável. Esta é a experiência. Podemos

não contar com nenhuma esfera transcendente, mas há o

coração da Vida. Entreguemo-nos a ele.

 

Deus é o Homem e o Homem é o Deus, Cristo é o Homem

e o Homem é o Cristo, a Mulher é Maria e Maria é a Mulher. O

caminho do Homem para Deus deve ser o mesmo do homem

para o Homem.

 

A Mulher é aquela que não foge. O Homem é aquele que

não pára de afirmar. A mulher deve recolher a afirmação, o

Homem deve recolher a dádiva. A Mulher é a Vida, o Homem

é a Palavra. No jogo de Cavaleiro e Dama o Homem é Menino,

a Mulher é Mãe. No outro pólo do jogo, o Homem é o senhor,

a Mulher é Serva.

 

Da nossa mais profunda dor sobe o apelo à Grande Mãe.

Sempre perdida, jamais encontrada, mas ainda assim ansiada

na perpétua agonia de nossas vidas volteando sem cessar ante

o altar da Mãe. Ah! O altar da Mãe é também o altar do Verbo.

Porque nele cresce e se debate o desespero - ainda que prenhe

da mais dolorosa esperança - da chama dessa vela que ora

morre, ora revive: nossa alma revolta e transviada que deseja

se fundir em algo melhor do que ela mesma, em sua necessidade, em sua culpa, em sua dor, em sua permanentemente frustrada aventura de alegria.

 

Onde encontrar a Mãe para nela, no seio dela, ser Menino

Deus? Onde encontrar a Mãe para nela afundar nossa angústia das raízes por nós perdidas antes mesmo de sermos e de

nos destroçarmos entre as arestas dessa indesejada existência?

Onde encontrar a Mãe para nela morrermos, a mãe redescoberta na menina que se fez serva para ser novamente mãe do Menino recuperado? Como o burguês poderá jamais entender esse mais doce que tremendo mistério?

 

A Mãe se perdeu: e raros a reencontraram em sonho e

preferiram, depois disso, abandonar a luz cansada desses dias

para se fixarem na nebulosa noite banhada pela Estrela remota

que ensinou aos homens o caminho do Menino e à Mãe o

caminho da Serva.

 

Mas estamos diante do Inelutável. E a Mãe quando começará a nascer?

 

 

AS PALAVRAS PERDIDAS

 

As palavras hoje ditas

dependem menos de quem as diz

do que daquele que as ouve.

Dependem menos ainda

do dia em que foram ditas

por alguém

que, com certeza,

as esqueceu.

Pois esquecer — apenas esquecer —

tornou-se a forma única de ser.

   

OS PONTOS CARDEAIS  

Não conheço os pontes cardeais
nasci sem os pontos cardeais
vivo sem os pontos cardeais
e morro sem os pontos cardeais.

Meu astrolábio é um ser em agonia
e meu porto é além de todo cais.

 

O VICE DEUS

Pisando a terra com garbo
Despontei
Quando já tinham desabado
Todos os tronos e altares
No coração dos homens.
E as últimas manchas do grande crepúsculo
Se desdobravam sobre os horizontes
Impermeáveis a todas as florações de luz.
Mesmo assim pisei com garbo
—Apesar de banhado pela luz escura da ironia—
O tapete das luas mortas,
Algumas vezes detendo-me diante das piras apagadas
No altar de todos os deuses
Dantes encravado no coração dos homens.
Frustrado padre de um culto sem adeptos
Ainda me vi sagrado Papa e Imperador
De um mundo por sonhar.
Mas apesar da desproporção de tantos sonhos
Só consegui ser poeta. Porque só com a poesia
É possível iludir ou contrariar a realidade.
E, como não pude escapar do destino de poeta,
Tentei ser Vice Deus.
Pois nasci num país em que a maioria
Dos homens públicos e das mulheres públicas
Aspiram sempre, uns mais, outros menos,
Se tornar vices de alguma coisa.
De vice-presidente a vice-lixeiro
O posto de vice nunca perdeu a serventia
Por tentar a possibilidade
Perfeitamente em aberto
De alcança-se a vaga de titular.
Como ser vice é ser pela metade
Todos se julgam felizes
Porque a metade lhes exige menos que o todo.
Mas por não querer ser metade de nada
Resolvi me passar por Vice Deus.
Sim, por Vice Deus. De uma vez que ninguém até agora
Alcançou este título no mundo.
E como Deus não dorme, segundo o adágio,
Contento-me em ser apenas o seu vice
Embora saiba que não possa haver alguém
Que venha a atingir, em qualquer tempo, o seu poder.
Não importa! É uma forma que encontrei
De estar mais perto Dele.
Como sou inteiramente Vice Deus
Pelo menos não serei pela metade
Dou graças a Ele, que não é pela metade,
Por todos os séculos,
Amém.



Extraído de:
2011 CALENDÁRIO   poetas     antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais

 

/ Caixa de cartão duro com 12 conjuntos de poemas, um para cada mês do ano. Os poetas incluídos pelo mês de seu aniversário. Inclui efígie e um poema de cada poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns de Portugal. Produção artesanal.

 

 

 

 

 

 

SAVARY, Olga, org. Carne viva.  1ª antologia brasileira de poemas eróticos.  Rio de           Janeiro: Editora Anima, 1984,  348 p.  14x21 cm.  Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20.  Col. A.M. (EA)

 

o centauro

Teme a mim, que deito raízes
no limo de tua carne.
 Teme a mim, que trago a vertigem
dos polvos para enredar-te.

Ó teme a mim, que te cavalgo
sobre o sangue vicejante:
como a um pasto de claridade
aberto ao meu horizonte.

Como a um pasto a que eu sem freios,
e selvagem me descontraio,
teme: não tanto ao meu vermelho
mas à cor do meu desmaio.

Teme: não ao fogo desperto,
antes ao fogo dormido.
Não ao claro sol que te cresta
mas, ao que te rasga, escondido.

 

sol secreto

Entre túmidas colinas
de sedas mornas e claras;
nas tuas internas minas
queimas tua luz avara;

internamente lavrando,
sem que jamais se consuma,
seu fogo pobre, seu fogo
que de ser brando costuma.




 

 

 

Página publicada em janeiro de 2011; ampliada e republicada em março de 2015 com a colaboração de Sérgio Castro Pinto.

 

 

 

 
 
 
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