ALVES MATA
Poeta e militar alagoano da (então) Força Policial Militar de Alagoas, em meados do século 20.
MATA, Alves. Brados. Maceió: 1942. 102 p. 15,5x22,5 cm. Apresentação de Vargas Lima e de José Negle. “ Francisco Alves Mata “
(conservando a ortografia da época:)
DRAMA ÍNTIMO
Quizera ter preparo, ser astuto,
Para traçar com toda minudência
As cenas que se passam na conciência,
"Esse drama simpático, impoluto.
Minha alma, ás vezes, toma num minuto
Várias feições, de cuja incongruência
Sofre meu corpo a sua impertinência,
Sem, contudo, tornar-se irresolúto.
Acho-me sempre ao lado dos opressos,
Apraz-me a companhia dos singelos,
Detesto os grandes porque são perversos.
Creio em tudo e descreio até de mim. . .
Suponho os homens, simples cogumelos
E viverei, de certo, sempre assim.
FANTASIA
Não me empolga essa efémera passagem
Comum a tantos tipos imbecis.
Conheço bem o encanto da miragem,
Essa ilusão fatal que, no deserto,
Quando tudo é incerto,
Torna mais infeliz
Ao pobre viajor. . .
E mesmo eu tenho horror
 deusa saturnal — a fantasia —
Irmã gémea da negra hipocrisia.
Nasci para ser mais um camponês
Do que palaciano.
Porém, si houver justiça, posso crer
Ter recaído em mim, neste momento,
Em que se buscam homens criteriosos,
Trabalhadores, fieis, simples, pacatos,
Porém de fibra forte, intransigente,
Que. embora estejam diante do perigo,
Darão "um passo em frente".
Não me honra, pois, o cargo passageiro
De que me acho investido.
Orgulha-me essa escolha no momento
Cheio de agitação
Repleto de maldade. . .
Considero-a, portanto, um atestado
De minha idoneidade.
Outubro 1931
EXCENTRICIDADE ESTÓLIDA
Meu fadário hiperbólico, esquipático,
Perentório, oprobrioso, proditor,
Paz-me ficar mazôrco, estulto, apático,
Por não ser do sicário aquiridor!
Alguém me assaca insulto, mas enfático
Ouço o paralogismo sem valor
De um proveio em cizânia e surumbático
Assisto ao sortilégio do traidor.
Muito salamaleque sem provento,
De cariz entremez, recebo insulso,
Cético, :à messe de um insulamento,
Para fazer, mazombo, apologética
Em estancias que escrevo sempre avulso
Ao vezano enxovalho, em paz ascética.
25-03-1930
APRECIAÇÕES
I
Serei sempre um eterno revoltado
Contra os máos, contra os vis, contra os inúteis,
Esses que vivem sempre ao nosso lado,
Com ações bestiais, ideias fúteis.
Digam de mim toda maledicência,
Atribuam-me falsas qualidades,
Afrontem-me com toda a violência,
Façam-me alvo de todas as maldade»
E não me causarão nenhum tormento
As infâmias de tais acusações,
Porque, quem tem o meu procedimento
Não receia essas falsas alusões.
Acusarei constante aos malfeitores,
Exijo-lhes castigos adequados,
Pois, quem não pune esses contraventores
Tem os brios aos seus equiparados.. .
No meio onde o dever fica esquecido
E somente a desordem forte viça,
Quem quizer ser bastante perseguido
Procure apenas distribuir justiça.
Maio 1932
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
CONSUBSTANCIAÇÃO DE FÉ
Se estás cansado, ó viajante amigo,
E não tens um amparo, um mero abrigo,
Em que descanses dos tormentos teus,
Fecha os olhos, medita e, num segundo,
Encontrarás o abrigo mais profundo,
Dentro de ti, pois lá estará Deus.
Se te jogam pedradas quando passas,
Se escarnecem de ti todas as massas,
Fecha os ouvis, fechos os olhos teus...
Lembra-te, pois, do Cristo no Calvário,
Ergue dentro de ti o teu sacrário
E nele encontrarás consolo — Deus.
Não temas os carrascos sanguinários
Nem te exaltes com esses perdulários
Que desrespeitam os valores teus...
Para ti, para eles há Juiz,
E se Nele confias, és feliz,
Pois viajante, esse Juiz é Deus.
Mesmo assim se tu fores vitimado,
Por abutres humanos devorado
Na defesa dos sãos princípios teus...
Imita o grande, o meigo Nazareno
Que morreu por pregar a lei de Deus.
*
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Página publicada em junho de 2021
Página publicada em julho de 2014
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