(óleo de E.Cabral de Mello [1984])
A.S. DE MENDONÇA JR.
Antonio Saturnino de Mendonça Junior, ou A. S. de Mendonça Jr. como assinava seus livros, (Matriz de Camaragibe, Alagoas, 8 de março de 1908 - Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1985) foi um escritor e político brasileiro.
Nasceu no Engenho Maranhão, em Matriz de Camaragibe, Alagoas. Cursou Direito nas universidades federais do Recife e de Niterói. Foi promotor público em Rio Novo e Carangola, no estado de Minas Gerais, antes de retornar a Alagoas e dedicar-se à atividade política, ao jornalismo e à literatura.
Participou da fundação do Partido Social Democrático (PSD) em Alagoas, de que foi representante na Câmara dos Deputados, entre 1950 e 1958, apoiando os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e notabilizou-se na literatura por sua lírica amorosa e por poemas e crônicas dedicados à paisagem e à humanidade da terra natal: lagoas, praias, rios, figuras populares, engenhos de fogo morto do Vale do Camaragibe.
Na década de 20, ajudou a difundir o Modernismo em Alagoas, organizando a Festa da Arte Nova. Presidiu a Academia Alagoana de Letras, eleito em 1958 e reeleito nos três anos seguintes, até 1961. Também em seu estado natal, foi professor da Faculdade de Direito, membro do Instituto Histórico e presidente da Caixa Econômica Federal.
Destaques na obra poética e literária: O que eu queria dizer ao seu ouvido (Maceió, 1946) - com soneto musicado por Hekel Tavares, que mereceu gravações de Hebe Camargo e Jorge Fernandes, no Rio de Janeiro, e, em Lisboa, integra o CD "Xodó : canções brasileiras para não esquecer"; Planície (Maceió, 1961); Dinheiro e mulher bonita (Maceió, 1964); Poemas fora da moda (Rio de Janeiro, 1971) Fonte: wikipedia
DESTINOS PARALELOS
Guarda estes pobres versos, com ternura,
e guarda, para sempre, na memória,
a lembrança de quem se transfigura
para contar a nossa linda história.
Mais tarde, numa noite, merencória,
de magoa e solidão, se porventura
uma vaga lembrança transitória
do passado ferir tua alma pura,
Relê baixinho os versos que te fiz
e pensa, sem rancor, em quem te quis
perdidamente, meu amor. Depois
Hás de chorar, por certo, de saudade,
em memória da nossa mocidade
e do ingênuo romance de nós dois.
CANTIGA DAS LAVADEIRAS
À sombra das ingazeiras,
entre as humildes caiçaras,
cantam moças lavadeiras
as suas cantigas claras:
"Quem ama sente pudor
de falar em quem quer bem,
quem fala muito de amor
não tem amor a ninguém.
A tua boca vermelha
é tão cheirosa, tão bela
que, certa vez, uma abelha
se enganou e pousou nela.
Enche os nossos olhos d'água
a paixão incompreendida :
Quem tem amores, tem magoa,
mas sem amor não há vida.
O teu olhar namorado
tão pura luz irradia,
que, numa noite, ao teu lado,
eu jurei que era de dia.
Minha alma sabe de cor
este conceito que diz:
"Não há desgraça maior
do que ter sido feliz.
Sou feliz porque me iludo,
trago a minha alma enganada;
quem tem amores tem tudo,
quem não os tem, não tem nada."
Cantai as vossas cantigas,
ó lavadeiras bizarras !
Trabalhai como as formigas.
cantando como as cigarras.
Quem canta seu mal espanta
e os sofrimentos acalma;
cantai, cantai, pois quem canta
lava as penas que tem nalma.
À sombra das ingazeiras,
entre as caiçaras antigas,
cantai, cantai, lavadeiras,
as vossas claras cantigas.
NOTURNO NO ENGENHO
A porteira bateu no batente,
O cachorro ladrou no quintal
e um galope feriu o silêncio.
A porteira bateu novamente;
o cachorro parou de ladrar
e o galope perdeu-se na noite ...
Foi o vento que abriu a porteira?
Amanhã vai faltar um cavalo
ou faltar uma moça solteira ...
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
DESTINOS PARALELOS
Guarda estes pobres versos, com ternura,
e guarda, para sempre, na memória,
a lembrança de quem se transfigura
para contar a nossa linda história.
Mais tarde, numa noite, merencória,
de mágoa e solidão, se porventura
uma vaga lembrança transitória
do passado ferir tua alma pura,
Relê baixinho os versos que te fiz
e pensa, sem rancor, em quem te quis
perdidamente, meu amor. Depois
Hás de chorar, por certo, de saudade,
em memória da nossa mocidade
e o ingênuo romance de nós dois.
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Página Ampliada e republicada em março de 2024
Página publicada em novembro de 2015
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