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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto  Isaac Amorim/ACS/MJ

 

ROBERTO EVANGELISTA

 

Nascido em Cruzeiro do Sul (Acre) e criado em Manaus (AM), o publicitário e artista plástico reconhecido internacionalmente, Roberto Evangelista, é, segundo o jornalista Ruy Fabiano, “um poeta de instalações e tem o dom da síntese. Maneja o haicai como um samurai ao sabre, e em seu segundo livro apura a sua maestria na escolha da palavra exata para desferir o golpe preciso, no momento inadiável”.

Os haicais aqui publicados foram extraídos do livro citado, Mínimas Orações.

 

(Página preparada e enviada por Angélica Torres Lima)

 

De MÍNIMAS ORAÇÕES

(Ed. Martins e Cordeiro, 2007) 

 

Corais sargaços
estrelas e liquens nas
tuas mãos em concha 

 

Engolir sapos filhos?
Saltamos alto
ao digeri-los 

 

Ah essas crianças
primaveris outonos
e invernos verão! 

 

(de Bashô:) 

Bashô luz súbita!
Fundiram-se os
circuitos lógicos 

 

Ao velho mestre
bastam o bastão e a
mínima oração

 

O haicai é o
máximo quando
mínimo ilumina 

 

(de Estação das Águas:)

 

Aos troncos trancos
e barrancos um rio
alarga o seu leito 

 

Lençóis cinzentos
no céu... Logo a terra
se cobrirá de água 

 

Chove a cântaros...
Alguém é levado
para dentro de si 

 

(de Flores, Frutos e Bambus:)

 

Árvore sem nome
e sem frutos Que delícia
de sombra! 

 

Por que tão
amargos os últimos
frutos da safra? 

 

As amapolas
quando colhidas papéis
de seda picados? 

 

Ávido amor:
mais flores houvesse
o beija-flor as sugaria 

 

(de Utilidades Domésticas:)

 

A luz crepuscular
incide sobre a chaleira:
lua cheia 

 

Garfo e faca
engalfinham-se à mesa
A colher pacifica 

 

Tempera-te bem
até o recheio ficar
suave e consistente 

 

Quanto tempo
diante do espelho, filha!?
Não te enxergas!?

 

(de Estações do Sentir:) 


Por que a música
de Glass soa assim:
tão cristal e terminal? 

 

Novos sabores
se provam da releitura
madura de um livro

  

Por essa trilha
escura é o dia
que procuras? 

 

Esses olhos
janelas d’alma conhecem
o interior da casa? 

 

Quanto sentimento
salta do olho do peixe
mesmo frito! 

 

Prazeroso é pisar
em folhas secas com
pés de criança

 

(deVerão Espanha:) 

para Joan Brossa

 

Um só cadarço
e um só laço para
um par de sapatos 

 

No campo verde
o vento sopra ondas
de margaridas

  

Roadway: rush
fim de tarde e o grasnar
de um pássaro à margem 

 

(de Jardins e Afins:)

 

Em volta da
cerejeira em flor
libélulas fazem amor 

 

Flores germinadas?
Qual nada! Borboletas
camufladas!...        

 

A mão que planta
sabe da integridade
da semente? 

 

Coaxos e cricris
invadem devagar a
terra crepuscular 

 

Vagas de vaga-lumes
ou a via láctea
no breu da mata? 

 

(de Infância)
 

Os pés no riacho
e um frescor subindo
à cabeça...

  

O relâmpago
flamejante grafitou
o mural da noite 

 

Esse pé de vento
não me cansa:
fui parar na infância 

 

(de Ofertório:)

 

para Thiago de Mello, poeta e mestre
na arte de empinar papagaios

 

Papagaios e curicas
trançam no céu meu
zôo de papel! 

 

para os irmãos Campos

 

Somos todos nós:
uns tão frouxos uns tão
cegos outros no cós 

 

para Ghandi

 

Ao perceber a mãe
em todas as mulheres
iluminou-se! 

 

 

(de Estações Quente e Úmida:)

 

Noite calorenta...
Ainda bem o frescor
da lua cheia 

 

No cerrado
esturricado o pé do ipê
amarelo vibra 

 

(de Velhos e Bichos:)

 

O artesão ausente:
silêncio e ordem
nas ferramentas 

 

O voo poente
das andorinhas
curva o horizonte 

 

Voo de garças
em diamante: altíssima
geometria 

 

Entre o céu e a
terra passam pássaros
ficam traços

 

 

ANDRADE, Rômulo. Artistas pela natureza.  Brasília: 1987. Silk printing.  Folio com capa  em papel artesanal por Cecílis Segré. 34,5x48 cm.  Edição de 100 exs. 6 gravuras numeradas e assinadas pelo artista plástico Rômulo e haikais de Roberto Evangelista escritos a lápis e assiandos pelo autor na parte final de cada uma das seis gravuras. Coleção exibida pelo Center for Book Arts, New York em diversas mostras itinerantes –Latins American Book Arts nos Estados Unidos e Canadá. Livro de arte. 
Col. Biblioteca Antonio Miranda. Exemplar 28/100. 

 

 

                   Pulsar, ah o pulsar
                   E cada coração
                   é uma estrela

 

 

                            Perto da inocência
                            sentir a vida, Agora:
                            fugaz existência.

 

 

                   Venho do fundo das Eras
                   quando o mundo ainda nascia
                   sou tão antigo e tão novo
                   como a luz de cada dia

 

                            O poeta – Quintana

 

                           

                            Dentro da noite veloz
                            o sol prepara
                            a nova aurora

        

                                     Pintoandrade

 

O viajante deita
e no sono, continua
a caminhada.

 

 

          Terna música eterna
          vem nos acordes
          um sereno de luz.

 

                   Pintoandrade

 

 

ANDRADE, Rômulo. Artistas pela natureza.  Brasília: 1097. Silk printing.  Folio com capa em papel artesanal por Cecília Segré. 34,5x48 cm.  Edição de 100 exs. 6 gravuras numeradas e assinadas pelo artista plástico Rômulo e um poema de Roberto Evangelista. Coleção exibida pelo Center for Book Arts, New York em diversas
mostras itinerantes –Latins American Book Arts nos Estados Unidos e Canadá. Col. A.M. Exemplar 28/100. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Anotações de uma pequena expedição ao lago do Arara, local situado na bacia do Rio Negro, em plena floresta amazônica. Trata-se de uma sequência de desenhos feitos ao longo de uma reunião de oasqueiros no ano de 1986, época de chuvas diluvianas. São imagens do interior dos tapiris (casa de palha), dentro da grande floresta. Sua presença se insinua no padrão das redes indígenas, típicas da região e na atitude das pessoas em contato com uma qualidade de energia tranquilizadora e revigorante. É a ocasião de encontros e intercâmbio de experiência, renovação e afirmação de valores de uma tribo que desta maneira reforça a sua identidade. 

 

Em fevereiro, 1986,
um naturalista sobe o rio Negro.
O artista navega.
Coletam flagrantes notáveis:
homens urbanos em contato
com a natureza,
homens em redes, despojados
do supérfluo,
homens pisando a terra virgem,
homens, tudo indica,
retornando aos seus primordiais
princípios.
O naturalista coleciona as cenas.
O artista as registra,
poeticamente, verdadeiramente.
As cores queimam, ardem
e deixam, salientes, doces sulcos.
As figuras saltam e ressaltam, vivas
Aliás, as gravuras (gravar alvuras?)
têm poder de luz
para ativar a mais apagada
das retinas, iluminar mentes
e corações adormecidos.
Tal é a sensibilidade do registro.
E, como todo bom naturalista
o artista não se atém aos atos
e termina por contar histórias,
a mais incrível das narrativas,
uma bela, rara e verídica epopeia:
a do reencontro dos filhos pródigos
com a mãe-natureza.

Manaus, 10 de novembro/ 87

                 Roberto Evangelista 

 

           Pulsar, ah o pulsar...
E cada coração
é uma estrela.

 

            Perto da inocência
sentir a vida. Agora:
fugaz existência.

       

      Dentro da noite veloz
o Sol dispara
a nova aurora.

 

 

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/amazonas/amazonas.html

 

 

Página publicada em março de 2021

Página publicada em dezembro de 2010; página ampliada e republicada em abril de 2019

 

 


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