MARIO DE OLIVEIRA
Foi poeta, jornalista, orador, advogado e educador. Natural de Rio Branco, filho de pioneiro regional e revolucionário histórico Major João Donato de Oliveira, das lutas irredentistas para integração do Acre ao Brasil, e de Francisca Maia de Oliveira. Fez seus estudos primários e secundários em Manaus e licenciaturas no estado do Ceará. Veio para o Acre após a conclusão de seus estudos e prestou relevantes serviços ao Acre, perfazendo um total de 40 anos dedicados aos mais diversos cargos públicos, políticos e do Poder Judiciário.
OLIVEIRA, Mario. Jardim fechado. Rio Branco, AC: 1971. 154 p. 15x20 cm. Impresso nas Oficinas do Departamento de Imprensa Oficial. “Edição comemorativa da inauguração do Palácio da Cultura”. Ex. autografado. Col. A.M.
Mário de Oliveira é, cronologicamente, par droit de naissance, o primeiro poeta e, por igual, o primeiro bacharel em Direito do então Território, hoje Estado do Acre. Nascido em Rio Branco, no antigo seringai "Empresa", fez os estudos primários e secundários em Manaus, onde não só conviveu com futuros expoentes das letras amazônicas, como Álvaro Maia, Cosme Ferreira, Carlos Mesquita, Vicente Bonfim e Edgar Lobão, mas também ensaiou os primeiros passos no beletrismo planiciàrio, assinando crónicas e poesias nas revistas estudantis "Aura" e "Lúmen Amazonense", que fizeram época. (...)
Sua poética, como não podia deixar de ser, sofre a influência da época, quando, no p/ano nacional, pontificavam Olavo Bilac, Guimarães Passos, Vicente de Carvalho e tantos outros mestres do Parnaso brasileiro. Embora chegue a adotar formas menos rígidas, posteriormente, como a polimetria e o verso branco, a verdade é que nunca abandonou a linguagem, a medida e o ritmo clássicos tradicionais, perdendo a moderna poesia brasileira, dessarte, quem poderia ter sido um de seus
elementos de prol. ROMEU JOBIM
PERFUME
Flutua, no ar, nesta manhã de maio,
Um perfume sutil, que me é tão caro...
Será, talvez, um lânguido desmaio
Das rosas, no jardim, ao desamparo,..
Flutua, no ar, flutua, suavemente,
Esse raro perfume inconfundível...
Até parece cada vez crescente,
Como se tu... Mas, isso é impossível!
Flutua, no ar, o teu grato perfume,
— Esse perfume, que é só teu, bem teu,
— Esse perfume de que tenho ciúme,
— Esse perfume, que eu quero só meu...
Flutua, no ar, o teu perfume. .. Importa
Saber quem to roubou, desprevenida.
Busco-lhe a causa. .. E, entanto, à minha porta,
És tu mesma que surges, ó "Querida"...
ÚLTIMO ENCONTRO
Talvez seja este encontro o derradeiro,
Que o destino nos dê.
Guarda a lembrança, como do primeiro
Afeto puro, e crê!
Crê na vida imortal do nosso amor,
Pleno de alternativas:
Ora, cheio de encanto; ora, de dor,
Unindo almas cativas...
Almas cativas! Mas, vedar quem pode
O coração de amar?;
Seria o mesmo, que a ninguém acode,
Que acorrentar o mar!
E o mar do nosso amor é tão violento,
Que esboroa os parcéis,
Que emergem, da desdita, ao léu do vento.
E restamos fiéis!
Fiéis, portanto, pela vida afora
Sejamos a este amor
Confiando no destino, muito embora
Se mescle de amargor.
Confia e espera, que, talvez, um dia,
Vença a perseverança.
E então a vida toda nos sorria,
Como um mar em bonança..
VIDA PARTIDA
Na tristeza dorida da saudade,
Que o coração me traz envenenando,
O desalento vem, de quando a quando,
Aumentar a agonia, que o invade.
Horas e horas fico em ti pensando,
Em como hei-de passar, e como há-de
Ser minha vida, sem felicidade,
Sem teu carinho as dores me adoçando.
Como a vida é ingrata! Na subida
Do passo mais difícil, quase ao cimo,
Não nos podemos ter, em mútuo arrimo.
Tu vais sozinha, e eu tão sozinho vou...
Nenhum de nós jamais imaginou
— Que nossa vida, assim, fosse partida!
EPICURISMO
Na voragem do tempo, a vida passa
Como, no ar, tenuíssima fumaça:
Ambas são transitórias..
Cumpre fruir, de bom, o que ela tenha;
Gozá-la do melhor, que nos convenha,
Em venturas e glórias...
CARNAVAL
Do Carnaval a quadra irreverente,
Que se acentua em trêfega alegria,
Constitui, para quase toda gente,
Um sonho, uma ilusão, que delicia...
Tristezas e pesares, de repente,
São esquecidos. . . Mas a fantasia
De fingir-se feliz é que, realmente,
Vale a própria ilusão, tão fugidia...
Fugir da vida, por alguns instantes,
Iludir-se de sonhos delirantes,
— É buscar da ventura o almo país!
Por isso, quanta gente a embriagar-se,
Afogando as tristezas num disfarce,
E vivendo a ilusão de ser feliz!. ..
Página publicada em maio de 2013
|