JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO E COSTA
José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano. Reside em Brasília, e escreve o Blog FELICIDACRE.
HORROR – GRANDE E MUDO
Rio Acre, interminável e fundo,
Entre barrancas de impotência e dor,
Em que mar remoto, profundo,
Estás tu a lançar tantas lágrimas de horror?
Aqui, ali, além, de dobra em dobra,
De curva em curva invades tua terra,
E tal qual uma imensa e assustadora cobra
Vais tragando a vida que a mata bonita encerra...
Da minha terra, toda a risonha história,
Alagaste-a... engoliste-a... São páginas lidas!
Mostras-me tu que o amor é crença ilusória,
E as almas são todas elas esquecidas?
Tuas margens, não as vejo mais. A linha
Das tuas barrancas, onde à tardinha
As garças e alguns de nós íamos cismar a esmo
Me desconcentra, e ao ver esta água turva,
Descubro o Rio Acre em cada curva
E o destino colérico a bagunçar comigo mesmo!
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Poema extraído do
JORNAL DA ANE – Ano XII – no. 91 – dezembro 2018. Brasília, DF: Associação Nacional de Escritores.
RÉQUIEM MATERNO
Quando acordei para o mundo,
Vi um rosto alabastrino
A beijar-me, ainda no berço
Premeditando o destino.
Me afagou e me ensinou
A falar e dar meus passos.
Cheguei até ter ciúmes
Do calor dos seus abraços !
Passou a ser a Mãezinha
Razão da minha alegria,
Pois foi quem me amparou
Quando ninguém me queria !
Mas enfim foi embora
Essa minha estrela guia...
Fico rogando a Deus
Por essa outra Maria !
Ao mandar que me deixasse
Deus lhe disse, em tom profundo
Que iria pagar em dobro
O bem que ela fez ao mundo.
Vou chorar sempre sua falta
Mas fazendo os rogos meus,
Que maior felicidade
Tenha depois desse adeus.
Pode partir minha mãe,
Que não será esquecida,
Porque o tempo jamais apaga
O bem que se quer na vida.
Página publicada em agosto de 2019
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