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TOMÁS MEDEIROS
Tomás Medeiros foi dirigente da Casa dos Estudantes do Império onde foi director da revista Mensagem. Foi co-fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, (MLSTP). Lutou pela independência dos países de expressão portuguesa.
POEMA
Na sexta-feira de Paixão
sairei à rua
vestido de branco — de luto.
Sairei à rua
com as minhas fantasias todas
com as minhas charruas todas
telefones
telefonias
buiques e cadilaques
colheres de alpaca
candeeiros de gás
máquinas de lavar roupa
aquecedores
e todo o meu progresso
suspenso
no fato que eu trago
pintado de branco.
Sairei à rua
e não tirarei os olhos da terra
nem rezarei orações preguiçosas.
Sairei à rua
com os meus sorrisos maduros
com todos os meus santos vencidos
para me rir às gargalhadas
do Deus morto, crucificado.
Na sexta-feira de Paixão
sairei à rua
vestido de branco — de luto.
Deixarei em casa
a minha família inteira
com os meus filósofos bantus
com os meus guerreiros balubas
cantando canções iorubas.
Deixarei as minhas forcas em casa
e não sairei à rua
mesmo que o sol me convide
se não for sexta-feira de Paixão
MEU CANTO EUROPA
Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
as linhas dos telefones sintonizadas,
as linhas dos morses ensurdecidas,
os mares dos barcos violados,
os lábios dos risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado.
Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silenciado,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterilizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com os chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietados,
Agora,
agora que me estampaste no rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto: AGORA?
UM SOCOPÉ PARA NICOLÁS GUILLÉN
Conheces tu
Nicolás Guillén
a ilha do nome santo?
Não? Tu não a conheces?
A ilha dos cafezais floridos
e dos cacaueiros balançando
como mamas de uma mulher virgem?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembom.
Tu não conheces a ilha mestiça,
dos filhos sem pais
que as negras da ilha passeiam na rua?
Tu não conheces a ilha-riqueza
onde a miséria caminha
nos passos da gente?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembom.
Oh! vem ver a minha ilha,
vem ver cá de cima,
da nossa Sierra Maestra.
Vem ver com a vontade toda,
na cova da mão cheia.
Aqui não há ianques, Nicolás Guillén,
nem os ritmos sangrentos dos teus canaviais.
Aqui ninguém fala de yes,
nem fuma charuto ou
tabaco estrangeiro.
(Qu'importa, Nicolás Guillén,
Nicolás Guillén, qu'importa?)
Conoces tu
La islã dei Golfo?
Bembom, bembom,
Nicolás, bembom.
Página publicada em maio de 2015.
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