TÂNIA TOMÉ
Cantora, poeta e compositora moçambicana,TâniaTomé (1981), ingressa na vida artística aos 7 anos, ao vencer o prêmio de melhor voz no Concurso de Música organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique. Aos 13 anos, participa do seu primeiro sarau, onde canta, declama e toca ao piano poemas de José Craveirinha, em espetáculo que inclui a presença do homenageado. Com 17 anos, entra para a Universidade Católica Portuguesa, no curso de Economia. Em 2002, adere ao Movimento Humanista, e faz algumas atuações em Portugal para angariar fundos para as crianças desfavorecidas de Moçambique.
Um ano mais tarde, ganha o Prêmio de Mérito da Fundação Mario Soares de Portugal pelo bom desempenho acadêmico e por conciliar estudos e atividades artístico-sociais. Em 2004, é coautora da antologia Um abraço quente da Lusofonia, com outros jovens poetas representantes de cada país da CPLP. Nesse mesmo ano, faz parte do CD intitulado Encontro (Iniciativa dos Leigos da Boa Nova), cuja totalidade dos lucros se destina a apoiar os projetos em favor das crianças e jovens de Angola e Moçambique. Regressa a Moçambique, e contribui para diversos movimentos artísticos e culturais, a destacar Movimento 100 crítica, Clave de Soul e Amigos do Livro. Faz-se então Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação dos Músicos Moçambicanos e dos Poetas del Mundo.
Em 2006, produz e apresenla, ao lado do músico Julio Silva, um programa cultural na Televisão de Moçambique (TVM). Em 2008, realiza e produz o espetáculo "Poesia em Moçambique", em tributo a José Craveirinha, onde todas as artes interagem para tornar vivo o poema. Introduz o conceito de Showesia (neologismo criado por ela) em Moçambique, com o qual se faz espetáculo de poesia com urna banda de músicos, ao lado da qual Tânia canta e recita poemas, havendo teatro da poesia, dança da poesia, entre outros. Em 2009, lança o primeiro DVD de poesia em Moçambique, com base no espetáculo "Poesia em Moçambique". Em seguida, lança oficialmente a página web www.showesia.com, e faz parte do Poetry África em Maputo, representando Moçambique, repetindo atuação e representação no Festival Internacional Poetry África na África do Sul.
Faz parte da antologia Worid Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas oriundos de 100 países). Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado de Mia Couto e Calane da Silva. Participa do livro The bilingual anthology on african poetry (China). Atualmente preside a associação Showesia com objetivo de resgatar o patrimônio cultural através de uma plataforma de interação entre o tradicional e o tecnológico/ocidental e de uma network cultural mundial.
Tânia Tomé
Agarra-me o sol por trás
(e outros escritos e melodias)
Organização/Prefácio de Floriano Martins.
Artista convidado Eduardo Eloy.
São Paulo: Escrituras, 2010. 127 p. (Coleção Ponte Velha)
ISBN 978-85-7531-388-6
www.escrituras.com.br
Sons em uníssono
A mão que me lê
ganha no espelho
a pupila
de uma luz imensa
no fundo da concha.
É o que se me vê(m) além
da cotilédone da pele:
sons ruidosos
em uníssono.
Sermente
E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente
Se o meu pescador pescasse
Se o meu pescador me pescasse
pelo arpão me agarrasse os versos
um a um, sem pressa
a melhor palavra do mar...
Mas em que lugar da asa
a palavra poderia ser mais bela?
Com que cheiro? Com que sabor?
Onde seria o lugar do sol
Com que cor? Com que brilho?
E sei que hei de escolher
depressa mas devagar
a palavra mais carnuda para comer
E vou comer intensamente
Com toda forca dos meus (d)entes
na ponta dos dedos
as palavras que não me calo
E um peixe com asas
Há de nascer
E há de pescar-me no alto
o pescador
Espero
Encantoema
Pois ha urna verdade,
é a verdade do poema.
Urna verdade que não existe
e que não importa.
O que importa és tu
e és tu que existes
no peixe que sonhas.
Encantamente
Uma confusão de dedos
procurando as mãos
da menina
— Onde estão, mãe,
as minhas asinhas da loucura?
A palavra
A palavra quer deitar-se
sozinha, reflexa
contemplar devagar
o sol morre ao silêncio
Não há pressa, não há medo
A palavra quer morrer
quantas vezes for preciso
Página publicada em janeiro de 2011
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