Fonte: http://puracoincidencia.blogspot.com  
                        
                        
                      SEBASTIÃO  ALBA 
                      (1940-2000) 
                        
                        
                      Dinis  Albano Carneiro Gonçalves, cujo pseudónimo é Sebastião Alba (Braga, 11 de Março  de 1940 - 14 de Outubro de 2000), é um ilustre escritor nacionalizado  moçambicano. Pertence à jovem vaga de autores moçambicanos que vingam na  literatura lusófona. 
                        
                      Nasceu  em Braga, onde viveu durante anos. Radicou-se, juntamente com a sua família, em  1950, em terras moçambicanas e só voltou a Portugal em 1984, transladando-se  novamente para a «Cidade dos Arcebispos», Braga. Mas foi em Moçambique que se  formou em jornalismo, e leccionou em várias escolas, e contraiu matrimônio com  uma nativa. 
                        
                      Publicou,  em 1965, Poesias, inspirado na sua própria biografia. Um dos seus primeiros  poemas foi Eu, a canção. Os seus três livros colocaram-no numa posição cimeira  no ambiente cultural bracarense. 
                        
                      Faleceu  com 60 anos, atropelado numa rodovia. deixa um bilhete dirigido ao irmão: «Se  um dia encontrarem o teu irmão Dinis, o espólio será fácil de verificar: dois  sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá» 
                        
                      Poesias, Quelimane, Edição  do Autor, 1965; O Ritmo do Presságio,  Maputo, Livraria Académica, 1974; O Ritmo  do Presságio, Lisboa, Edições 70, 1981; A  Noite Dividida, Lisboa, Edições  70, 1982; A Noite Dividida,(O Ritmo  do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano), Lisboa, Assírio e Alvim,  1996; Uma Pedra Ao Lado Da Evidência, (Antologia: O Ritmo  do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano + inédito), Porto, Campo das  Letras, 2000; Albas, Quasi Edições, 2003 
                      Fonte: Wikipédia 
                        
                      TEXTO  EM PORTUGUÊS  /  TEXTO EN ESPAÑOL 
                        
                        
                      NÃO SEI QUE LUZES 
                        
                      Não sei que luzes a bordo 
                      escurecem de sentido a noite larga 
                      e em mim perfilam solenes 
                      as sensações na sombra 
                        
                      flébeis costas 
                      devolvem o mar disperso 
                      e nos flancos do casco 
                      um monótono som singra 
                        
                      só minhas ânsias embaladas 
                      fremem 
                      a cada indefinido promontório 
                      se resignam hirtas 
                      na amurada  
                      ou, se volve um farol, 
                      são nucleares e brancas 
                        
                      mas amanhece  
                      vagam flocos de círios 
                      um sol de adolescência e de novela 
                      descobre a amante insulada 
                        
                      e um sino toca para o pequeno almoço. 
                        
                        
                      NINGUÉM MEU AMOR 
                        
                      Ninguém meu amor 
                      ninguém como nós conhece o sol 
                      Podem utilizá-lo nos espelhos 
                      apagar com ele 
                      os barcos de papel dos nossos lagos 
                      podem obrigá-lo a parar 
                      à entrada das casas mais baixas 
                      podem ainda fazer 
                      com que a noite gravite 
                      hoje do mesmo lado 
                      Mas ninguém meu amor 
                      ninguém como nós conhece o sol 
                      Até que o sol degole 
                      o horizonte em que um a um 
                      nos deitam 
                        
                      vendando-nos os olhos 
                      
                        
                      TEXTO  EN ESPAÑOL 
                      Traducción de XOSÉ  LOIS GARCÍA 
                        
                      NO SÉ QUÉ LUCES 
                        
                      Nos sé qué luces a bordo 
                      oscurecen de sentido la larga noche 
                      y en mí perfilan solemnes 
                      las sensaciones en la sombra 
                        
                      Lamentables costas 
                      devuelven el mar disperso 
                      en los flancos de casco 
                      un monótono sonido singla 
                        
                      sólo mis ansias engañadas 
                      tiemblan 
                      a cada indefinido promontorio 
                      se resignan firmes 
                      en la muralla  
                      o, se vuelven un faro, 
                      son nucleares y blancas 
                        
                      pero amanece 
                      flotan copos entre cirros 
                      un sol de adolescencia y de novela 
                      descubre la amante aislada 
                        
                      y una señal avisa para el desayuno. 
                        
                        
                        
                      Poemas publicados originalmente en la revista HORA DE POESIA, n.  19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar cedido para la Biblioteca Nacional de  Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la debida anuência del  traductor. 
                      
                     
                    NO MEU PAÍS 
                       
                      No  meu país 
                        dardejado de sol e da caca dos gaios 
                        só há estâncias 
                        (de veraneio) na poesia. 
                        Nossos lábios 
                        a um metro e sessenta e tal 
                        do chão amarelecido 
                        dos símbolos 
                        abrem para fora 
                        por dois gomos de frio. 
                        Nos lábios outonais, digo, 
                        outonais doze meses. 
                        No entanto 
  à flor da possível 
                        geografia 
                        um frêmito cinde 
                        as estações do ano. 
   
                        (In: O Ritmo de  Presságio,1974) 
                           
                           
                           
                          ENVELHECES, RAPAZ 
                             
                            Palavras,  cascalho desabrido 
                              que em cada manhã, suspirando, 
                              realinho nos canteiros 
                              e que, sem fé, sagro 
                              de cal idílica. 
                              A vizinha chega-se ao muro, 
                              diz “bom dia”. 
                              Vem duma comunidade 
                              com juízo, apercebe-se 
                              de que a minha saudação 
                              carreta as pedras 
                              dum mutismo lavrado. 
                              Acabará por julgar 
                              que ali uxoricídio, e eu velo 
                              para que ele não fique a descoberto. 
                              Há-de ver 
                              o meu bilhete de identidade, auge 
                              de quem sou, 
                              santo-e-senha, vínculo 
                              que nem a morte pui. 
                              Nada feia. No dia em que 
                              um giro de andorinhas nos aureole, 
                              dir-lhe-ei que tive 
                              relações conjugais, sim! 
                              mas com beleza, etc... 
                              Não tardará que ela me escolha 
                              as palavras e os chinelos 
                              a seu gosto. 
                    (In: Noite Dividida, 1982) 
                    *** 
                      
                      
                    *, 
                      
                    Página  ampliada e republicada em abril de 2022 
                     
  
                      Página publicada em abril de 2008  
                     |