Fotógrafo: Ricardo  Rangel 
                      Fonte: http://maschamba.weblog.com.pt  
                       
                       
                        
                      RUI  NOGAR 
                      (1932-1993) 
                        
                        
                      Francisco  Rui Moniz Barreto, nasceu em Maputo (ex- Lourenço Marques) em 1932. Militante  da Frelimo foi o primeiro secretário-geral da Associação de Escritores  Moçambicanos. Silêncio Escancarado foi o seu único livro. Faleceu em 1993. 
                        
                        
                      TEXTOS  EM PORTUGUÊS  /   TEXTOS EN ESPAÑOL 
                        
                        
                                        NA  ZONA DO INIMIGO 
                        
                                         I 
                                         as instruções foram bem  precisas 
                      todos nós as compreendemos 
                      camaradas 
                        
                      “permanecer no interior do país 
                      cumprindo tarefas que vos daremos 
                        
                      guardar o santo e senha 
                      que de Dar-es-Salaam vos irá 
                      revelar a cada um 
                      as fronteiras da humilhação 
                      e depois a luta e a conquista 
                      de novas zonas libertadas” 
                        
                      as instruções foram bem precisas 
                      todos nós as compreendemos 
                      camaradas 
                        
                      e aguardaremos ansiosamente 
                      o mensageiro que já tardava 
                        
                        
                      XICUEMBO 
                        
                      Eu bebeu suruma 
                      dos teus ólho Ana Maria 
                      eu bebeu suruma 
                      e ficou mesmo maluco 
                        
                      agora eu quero dormir quer comer 
                      mas não pode mais dormir 
                      não pode mais comer 
                        
                      suruma dos teus olhos Ana Maria 
                      matou sossego no meu coração 
                      oh matou sossego no meu coração 
                        
                      eu bebeu suruma oh suruma suruma 
                      dos teus ólho Ana Maria 
                      com meu todo vontade 
                      com meu todo coração 
                        
                      e agora Ana Maria minhamor 
                      eu não pode mais viver 
                      eu não pode mais saber 
                        
                      que meu Ana Maria minhamor 
                      é mulher de todo gente 
                      é mulher de todo gente 
                      todo gente todo gente 
                        
                      menos meu minhamor. 
                        
                        
                      
                        DA FRUIÇÃO DO SILÊNCIO  
                       
                      Tratávamos o silêncio por tu  
                        Dormíamos na mesma cela  
                        Acordávamos do mesmo sono 
                      Cada sílaba audível  
                        Completamente nua  
                        Feria dum segundo sentido  
                        O palato hipertenso  
                        Da fria cela dezenove 
                      Farrapos de ambiguidade  
                        Pendiam pelas arestas  
                        Das mais afoitas vogais 
                      Ninguém pressentia  
                        No gume acorado  
                        Da quase indiferença  
                        Que o silêncio aparentava  
                        O perfeito sincronismo  
                        Das sílabas dispersas  
                        Pelos tímpanos de cada um 
                      Nada sabíamos de nós próprios  
                        Além da angústia lacerante  
                        Coagulando-nos um a um  
                        Nos limites da expectativa 
                        
                      E no écram memorial 
                        Milhões de imagens se degladiando 
                      Era o silêncio devorando o silêncio  
                        Era o silêncio copulando o silêncio  
                        Era o silêncio assassinando o silêncio 
                        Era o silêncio ressuscitando o silêncio 
                                                                o silêncio 
                        
                      Oh o silêncio  
                        Maldito silêncio colonial 
                        Contra as paredes da solidão 
                                                  o  silêncio 
                        
                      Oh o silêncio  
                        Maldito silêncio imperial  
                        Sepultando-nos um a um  
                        Sob os escombros de Portugal. 
                       
                      
                       
                        
                        
                        
                      
                        
                        
                      TEXTOS EN ESPAÑOL 
                      Traducción de XOSÉ  LOIS GARCÍA 
                        
                        
                      EN LA ZONA DEL ENEMIGO 
                        
                      I 
                      las instrucciones fueron muy precisas 
                      todos nosotros las comprendemos 
                      camaradas 
                        
                      “permanecer en el interior de país 
                      cumpliendo trabajos que os daremos 
                        
                      esperar el santo y seña 
                      que desde Dar-es-Salaam 
                      os revelará a cada uno 
                      las fronteras de la humillación 
                      y despues la lucha y la conquista 
                      de nuevas zonas liberadas” 
                        
                      las instrucciones fueron muy precisas 
                      todos nosotros las comprendemos 
                      camaradas 
                        
                      y esperamos ansiosamente 
                      al mensajero que ya tardaba 
                        
                        
                        
                      Poemas publicados originalmente en la  revista HORA DE POESIA, n. 19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar cedido para la  Biblioteca Nacional de Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la  debida anuência del traductor. 
                        
                  Página publicada em março de 2008; ampliada em janeiro de 2016            Poesia moçambicana  |