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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



MIA COUTO 

Nasceu na cidade de Beira, Moçambique, em 1955. Poeta, jornalista, com estilo muito próprio, já foi traduzido a muitos idiomas. Dedica-se também ao teatro e à biologia.
 

Quissico 

1. Deixei o sol

na praia de Quissico

De bruços

sobre o Verão

eu deixei o Sol

na extensão do tempo

Molhando, quase líquido,

o dia afundava

nas fundas águas do Índico

A terra

se via estar nua

lembrando, distante,

seu parto de carne e lua

 

2. Não o pássaro: era o céu

que voava

O ombro da terra

amparava o dia

A luz

tombava ferida

pingando

como um pulso suicida

um minhas ocultas asas

 

 

Poema da despedida

 

Não saberei nunca

dizer adeus

 

Afinal,

só os mortos sabem morrer

 

Resta ainda tudo,

só nós não podemos ser

 

Talvez o amor,

neste tempo,

seja ainda cedo

 

Não é este sossego

que eu queria,

este exílio de tudo,

esta solidão de todos

 

Agora

não resta de mim

o que seja meu

e quando tento

o magro invento de um sonho

todo o inferno me vem à boca

 

Nenhuma palavra

alcança o mundo, eu sei

Ainda assim,

escrevo.

 

 

 

Fui Sabendo de Mim

 

Fui sabendo de mim

por aquilo que perdia

 

pedaços que saíram de mim

com o mistério de serem poucos

e valerem só quando os perdia

 

fui ficando

por umbrais

aquém do passo

que nunca ousei

 

eu vi

a árvore morta

e soube que mentia

 

 

De "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 

 

 

Solidão

 

Aproximo-me da noite

o silêncio abre os seus panos escuros

e as coisas escorrem

por óleo frio e espesso

 

Esta deveria ser a hora

em que me recolheria

como um poente

no bater do teu peito

mas a solidão

entra pelos meus vidros

e nas suas enlutadas mãos

solto o meu delírio

 

É então que surges

com teus passos de menina

os teus sonhos arrumados

como duas tranças nas tuas costas

guiando-me por corredores infinitos

e regressando aos espelhos

onde a vida te encarou

 

Mas os ruídos da noite

trazem a sua esponja silenciosa

e sem luz e sem tinta

o meu sonho resigna

 

Longe

os homens afundam-se

com o caju que fermenta

e a onda da madrugada

demora-se de encontro

às rochas do tempo

 

De "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 

 

 

COUTO, Mia.  Poemas escolhidos.  Apresentação José Castello.  São Paulo: Companhia das Letras, 2016.   186 p.  14x21 cm.  ISBN978-85-359-2684-2   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Finalmente, uma bela edição com a poética de Mia Couto, escritor moçambicano de feição e aceitação universal.  A.M.


 

 

Ser, parecer

 

Entre o desejo de ser
 e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos

 

 

Tardio

 

Quando quis ser fruto
fui fome,
não mais do que areia
de um chão sem cio.

Quando sonhei ser pano
fui agulha.
E morri no sono do gesto
de enrolar o fio.

Quando aprendi a ser poente
já não havia céu.

Quando quis anoitecer
tudo era luz.

E assim me condeno
em livre vício:

No mais derradeiro
eu só vislumbro um início.

 

 

 

 



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