LOURENÇO DE CARVALHO
Perteneceu à “Voz de Moçambique” nos anos sessenta do século passado, década da luta armada em que ser poeta era um risco e os versos um odioso inimigo das autoridades portuguesas. Eugénio Lisboa opina sobre o autor: “Poeta denso y excesivo al mismo tiempo riguroso...”
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
EU COMEDOR DE CATEDRAIS E MITOS
eu comedor de catedrais e mitos
atravesso o deserto
com medos e verdades
sentinelas de carne a vigiar o dia
é a hora exacta
de apareceres no meu quadrante
influência súbita permanência e dia:
tu a fera o muro
o pássaro de plumas
serpente que se alimenta de mim
surges e devoras este corpo de fogo
reminiscência frágil de veneno e crime
ou fênix apenas renascida
em qualquer caso surges
exterminas ainda
a eventual sobriedade que denuncio
fidelidade não
não era permitido ver o sol
porque chovia
FOMOS DENUNCIADOS
fomos denunciados
apanhados no escuro
por sabermos apenas
como se faz o esperma
mas onde a coragem
para mais geometria
que o triângulo das pernas
o mastro do navio?
a ti sei condenar
ó namorada mansa
minha toira-menina
eu preciso de ti
como de sal e livros
minha ave africana
ó mandrágora escura
eu decoro o teu corpo
de puta e sanguessuga
somos feras ou furúnculos?
só cordeiros nos olhos
devoramos os outros
trazemo-los na boca
eu e tu somos bichos
somos anjos de carne
corroídos pelo tempo
corroídos pelo vício
neste país de luto
nesta pátria de frio
TEXTO EN ESPAÑOL
Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA
YO COMEDOR DE CATEDRALES Y MITOS
Yo comedor de catedrales y mitos
atravieso el desierto
con miedos y verdade
centinelas de carne vigilando el día
es la hora exacta
de que aparezcas en mi cuadrante
influencia súbita permanencia y día:
tu la fiera del muro
el pájaro de plumas
serpiente que se alimente de mi
surges y devoras este cuerpo de fuego
reminiscência frágil de veneno y crimen
o fênix apenas renacida
en cualquier caso surges
aún exterminas
la eventual sobriedad que anuncio
fidelidad no
no estaba permitido ver el sol
porque llovía
Poemas publicados originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar cedido para la Biblioteca Nacional de Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la debida anuência del traductor.
Página publicada em abril de 2008 |