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                   FRANCISCO RUI MONIZ  BARRETO 
                  / RUY NOGAR,  pseudônimo / 
                  (1935? – 1994) 
                    
                  Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1933.  Preso político nos anos sessenta. Deputado da Assembleia Popular de Moçambique.  Secretário-Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos. Publicou: Silêncio escancarado, 1982. 
                    
                    
                  
                  MOÇAMBIQUE. ANTOLOGIA  POÉTICA. Organizador: Rogério  Andrade Barbosa.  Brasília:          Thesarus Editora, s.d.   16 p.   10,5 x 15 cm.  (Biblioteca do  Cidadão. Série Literatura em Língua Portugues, 5)  Ex. bibl. Antonio Miranda 
                    
                  DA FRUIÇÃO DO SILÊNCIO 
                  Tratávamos  o silêncio por tu  
                    Dormíamos na mesma cela  
                    Acordávamos do mesmo sono 
                  Cada  sílaba audível 
                    Completamente nua  
                    Feria dum segundo sentido 
                  O  palato hipertenso  
                    Da fria cela dezenove 
                  Farrapos  de ambiguidade  
                    Pendiam pelas arestas  
                    Das mais afoitas vogais 
                  Ninguém  pressentia  
                    No gume acorado  
                    Da quase indiferença  
                    Que o silêncio aparentava  
                    O perfeito sincronismo  
                    Das sílabas dispersas  
                    Pelos tímpanos de cada um 
                  Nada  sabíamos de nós próprios  
                    Além da angústia lacerante  
                    Coagulando-nos um a um  
                    Nos limites da expectativa 
                  E  no écram memorial 
                    Milhões de imagens se degladiando 
                  Era  o silêncio devorando o silêncio  
                    Era o silêncio copulando o silêncio  
                    Era o silêncio assassinando o silêncio  
                    Era silêncio ressuscitando o silêncio 
                    o silêncio 
                  Oh  o silêncio 
                    Maldito silêncio colonial 
                    Fuzilando-nos um a um 
                  Contra  as paredes da solidão 
                    o silêncio 
                  Oh  o silêncio 
                    Maldito silêncio imperial 
                    Sepultando-nos uma a um 
                    Sob os escombros de Portugal. 
                    
                  Página  publicada em dezembro de 2018 
                   
                
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