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CAMPOS D´OLIVEIRA

 

 

José Pedro da Silva Campos d´Oliveira na Ilha de Moçambique. Poeta e contista.

Obra publicada: O mancebo e rovador Campos Oliveira (1985), org. de Manuel Ferreira.


A UMA VIRGEM
(Improviso)

Motora dos meus martírios!
Causa da minha saudade!
Ingénua e casta deudade!
Minha terna inspiração!
Condoi-te da triste sorte
Do jovem que te ama tanto,
Que por ti verte agro pranto
Gerado no coração!

Rasga-me o peito, se queres,
E vê nele a intensa chama,
Que há três anos o inflama
Em cruas dores, sem fim...
De padecer já cansado
Vou sentindo a morte dura
Arrastar-me à sepultura,
E na flor da idade assim!...

E podes ser tão tirana,
Que possas ver indif´rente
D´anos de´nove somente
Morrer o teu trovador?!
Ai! Não! Alenta-me a vida,
Reprime esta dor infinda
Dando-me só, virgem linda,
O teu puro e casto amor!...


O PESCADOR DE MOÇAMBIQUE

— Eu nasci em Moçambique,
de pais humildes provim,
a cor negra que eles tinham
é a cor que tenho em mim;
sou pescador desde a infância,
e no mar sempre vaguei;
a pesca me dá sustento,
nunca outro mister busquei.

Antes que o sol se levante
eis que junto à praia estou;
se ao repouso marco as horas
à preguiça não as dou;
em frágil casquinha leve,
sempre longe do meu lar,
ando entregue ao vento e às ondas
sem a morte recear.

Ter contínuo a vida em risco
é triste coisa — sei que é!
mas do mar não teme as iras
quem em Deus depõe a fé;
é pequena a recompensa
da vida custosa assim;
mas se a forme não me mata
que me importa o resto a mim?

Vou da Cabeceira às praias,
atravesso  Mussuril,
traje embora o céu d´escuro,
u todo seja d´anil;
de Lumbo visito as águas
e assim vou até S ancul,
chego depois ao mar-alto
sopre o note ou ruja o sul.

Só à noite a casca atraco
para o corpo repousar,
e ao pé da mulher que estimo
ledas horas ir passar:
da mulher doces carícias
também quer o pescador,
pois d´esta vida os pesares
faz quase esquecer o amor!

Sou pescador desde a infância
e no mar sempre vaguei;
a pesca me dá sustento,
nunca outro mister busquei;
e enquanto tiver os braços,
a pá e a casquinha ali,
viverei sempre contente
neste lidar que escolhi! —


Página publicada em outubro de 2008



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