CALANE DA SILVA
Raul Alves Calane da Silva (Maputo, 20 de Outubro de 1945) é um poeta, escritor e jornalista moçambicano.
Calane da Silva coordenou a Gazeta Artes e Letras da revista Tempo, em 1985, e foi chefe da redação da Televisão Experimental de Moçambique, em 1987.
Foi igualmente membro da direção da Associação dos Escritores Moçambicanos.
Obteve o grau de mestre em Linguística Portuguesa pela Universidade do Porto, com a dissertação A pedagogia do léxico: as escolhas lexicais bantus, os neologismos luso-rongas e a sua função estilística e estético-nacionalista nas obras Xigubo e Karingana wa Karingana de José Craveirinha, bem como o grau de doutor em Linguística Portuguesa pela mesma universidade com uma tese intitulada Do léxico à possibilidade de campos isotópicos literários.
É docente de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Pedagógica e Diretor do Centro Cultural Brasil-Moçambique em Maputo, sendo responsável pela dinamização das actividades culturais que nos últimos anos se assistem naquele local. Membro do Conselho Consultivo do MIL: Movimento Internacional Lusófono.
Foi condecorado, em 2011, em Maputo, com a Comenda da Ordem de Rio Branco, por ocasião do Dia do Diplomata.
Em 22 de novembro de 2011 foi anunciado como vencedor do Prémio José Craveirinha, o maior galardão literário moçambicano, que distinguiu a sua carreira na literatura e no ensaio.
AINDA AO MEU IRMÃO CARLITOS
Mano
envolveram-te em chumbo
como se blindada
a tua voz de vez se calasse.
Mas tu estás aqui
nas minhas palavras
nos meus gestos
no meu sorriso.
Continuas vivo
para além do chumbo
e da terra coalhada de cruzes.
Lembras-te
de quanto odiávamos a injustiça?
Lembras-te
de quanto odiávamos os mortos inúteis?
Hoje
és mais um entre eles.
Na Malanga
alguns dos teus e meus grandes amigos
desapareceram para sempre.
Partiram ao teu encontro
sem balas no corpo
mas bem recheados de bacilos e álcool.
O sítio onde crescemos
morreu também.
Pás escavadoras roubaram todos os trilhos
e na próxima primavera
não haverá mais malmequeres
na ladeira de Minkokweni.
Restarás apenas tu
com a minha voz.
ANIVERSÁRIO EM TEMPO DE ÜCANHI
(Improviso no dia 2/2/80 — aniversário do Rui Nogar e a de dedicado)
Fermentado
este canho da vida
às vezes amarga
irmão.
Bebido
entontece lágrimas
tecidas
muito cá de dentro
enquanto voraz
e tempo não perdoa
o espaço corporal
que nos anima.
Página publicada em maio de 2015
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