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Fonte: http://literatas.blogs.sapo.mz/

ALBINO MAGAIA

 

 

          Albino Fragoso Francisco Magaia (Lourenço Marques, 27 de Fevereiro de 1947-27 de Março de 2010) foi um jornalista, poeta e escritor moçambicano.

          Na sua juventude, foi membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM).

Foi director do semanário Tempo e secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos.

 

 

DESCOLONIZÁMOS o LAND-ROVER

 

Já não é carro cobrador de impostos

Nós descolonizámo-lo.

Já não é terror quando entra na povoação

Já não é Land-Rover do induna e do sipaio.

E velho e conhece todas as picadas que pisa.

É experiente este carro britânico

Seguro aliado do chicote explorador.

Mas nós descolonizámo-lo.

No matope e no areal

Sua tracção às quatro rodas

Garante chegada às machambas mais distantes

As cooperativas dos camponeses.

Entra na aldeia e no centro piloto

Ruge militante nas mãos seguras do condutor

Obedece fiel a todas as manobras

Mesmo incompleto por falta de peças.

— Descolonizámos o Land-Rover

Com nossos produtos

Comprámos o combustível que consome

Com nossa inteligência

Consertámos avarias que surgem

Com nossa luta

Transformámos em amigo este inimigo.

Nós, descolonizadores,

Libertámos o Land-Rover

Porque também ficou independente, afinal

Transformaram-se os objectivos que servia

E hoje é militante mecânico

Um desviado reeducado

Uma prostituta reconvertida em nossa companheira.

Descolonizámo-la e com ela casamos

E não haverá divórcio.

De Tete a Cabo Delgado

Do Niassa a Gaza

Da sede provincial ao círculo

Este jeep saúda quando passa

O caterpillar, seu irmão

Outro descolonizado fazedor de estradas

E cruza-se com o Berliet atarefado

Ex-pisador de minas

Eles aprenderam com a G3

 

Menina vanguardista na mudança de rumo

A primeira a saber e a gostar

A diferença antagónica

Entre a carícia libertadora das nossas mãos

E o aperto sufocante e opressor do inimigo que servia.

As mãos dos operários que o fabricam

São iguais às mãos dos operários da nossa terra.

Essas mãos inglesas que o criam

Um dia saberão que ajudaram a fazer a revolução

E vão levantar o punho fechado da solidariedade.

Ruge este militante nas picadas da Zambézia

Galga as difíceis estradas de Sofala

Passa pelos pomares de Manica

Pelo milho de Gaza

Pelas palmeiras de Inhambane

Na cidade do Maputo descansa.

Transporta pelo país os olhos dos estrangeiros amigos

Que querem conhecer de perto a nossa Revolução

— Descolonizámos uma arma do inimigo

Descolonizámos o Land-Rover!

Aquelas quatro rodas de um motor potente

Aquela cabine dos mecanismos de comando

Aquelas linhas da carroçaria irmanadas ao medo

Já não afugentam o povo:

Homens, Mulheres e Crianças do campo

Fazendo sinal ao condutor, pedem boleia.

Nós descolonizámos o Land-Rover

Por isso o povo já não foge.

 

 

Página publicada em maio de 2015


 

 

 
 
 
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