Fonte: http://www.didinho.org/HELDERPROENCAOUOPOETALIBERTADOR.htm
HELDER PROENÇA
Hélder Magno Proença Mendes Tavares (1956 - Bissau, 5 de junho de 2009), foi um escritor, professor e político da Guiné-Bissau, havendo lutado na guerra de independência do país, na década de 1970.
Desde a adolescência que Proença escrevia poemas, àquele tempo sob a temática anti-colonialista, que resultou na publicação, em 1977, da primeira antologia poética guineense, sob sua coordenação, entre outros, e que também prefaciou, intitulada "Mantenhamos Para Quem Luta!".
Não concluiu os estudos, havendo participado das lutas pela independência do país. Mais tarde, completou a formação no Rio de Janeiro, integrando os quadros do Ministério da Cultura de seu país, e principiando o magistério em História. Havia, antes, sido o responsável pela educação de Bolama.
Na política foi deputado na Assembleia Nacional Popular e membro do Comité Central do PAIGC (Partido único, de orientação marxista, que governou o país da independência em 1974 até a democratização nos anos 1990).
Ocupou, ainda, o cargo de Ministro da Defesa.
Como escritor publicou em vários periódicos, como Raízes (de Cabo-Verde), África (Portugal), e os panfletários Libertação e O Militante, ligados ao PAIGC. Em 1982 publicou o livro "Não posso adiar a palavra", que reuniu seus versos dos tempos de guerrilha.
A morte de Proença foi anunciada pelo Ministro da Defesa guineense, horas depois do anúncio do assassinato por tropas oficiais do candidato a presidente Baciro Dabó. Segundo a versão oficial, Proença seria o protagonista dum golpe de estado e morrera em seu carro, junto ao motorista e um segurança, após troca de tiros com os soldados que iam prendê-lo. Já antes a imprensa mundial anunciara rumores de que o poeta também havia sido morto.
NÃO POSSO ADIAR A PALAVRA
Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mios
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a "Deus Pai todo-poderoso criador dos céus
e da [terra"
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo. Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!
NÓS SOMOS
Nós somos
aqueles que dia e noite
fazem com suas mãos
os alicerces da vida.
Nós somos
lágrimas, suor e sangue
que desafiando mortes e séculos...
fundiram esperanças e fé!
Nós somos, irmãos
o florir, a madrugada
e o verde selvagem dos maquis
que em noites sombrias
trazem a canção da vida.
Nós somos
dança, música e ritmo
que em anos 40
sobreviveram a tempestade da fome.
Nós somos irmãos
terra, chuva e arado
que alimentam vidas
e alicerçam o homem!
Nós somos
o tantã da verdade
em místicas noites do fanado*
nós somos irmãos
a certeza e o porvir!
*fanado = cerimônia de iniciação pela qual todos jovens da Guiné têm que passar.
Página publicada em maio de 2015; ampliada em janeiro de 2016.
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