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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEOBALDO VIRGINIO

 

Natural da ilha de Santo Antão, de Cabo Verde, Teobaldo Virgínio Nobre de Melo nasceu em 21 de Maio de 1924. Aposentado, vive há anos com a família nos Estados Unidos da América do Norte, mas o rol das suas pro-fissões inclui a de pastor evangélico, poeta, ficcionista, director da revista Arquipélago (EUA) e colaborador em outros órgãos de imprensa como Presença Crioula, Morabeza, Revue Noire, Notícias do Imbondeiro (Angola) e Coluna do Norte (Brasil). De temática cabo-verdiana, a sua fonte perene, já publicou, em prosa e verso, doze volumes, dos quais os dois últimos saíram a em Março de 2010: Folhas da Vida - poesia; Gaudêncio, o Filho Errante - prosa.

 

 

 

SEARA

Ecos de veleiros idos e ficados
da história das águas secas
na terra dramática posta
nas encruzilhadas do mar.

 

Voragens que ficaram

na tristeza de cantigas e versos

na saudade de lembrar...

(que é dos meninos que andavam a brincar!)

 

E sempre a chamada do sangue
no instinto de sobreviver
à dor de laços desfeitos
na dispersão pelo litoral.

 

Filhos sem rótulos
desorientados à toa
sem saberem onde lhes ficou
a casa ou a mãe.

 

Seara vermelha

no pavor da espera

e as cantigas que ficaram

cantadas para calarem

outros meninos que nasceram.

 

Nem lendas nem lérias

dos ventos dos homens e da seca

na planície desventrada

de tanto dar os últimos rebentos.

Seara dramática vermelha desventrada!

 

 

MENINO

 

Tu és o tesouro perdido
que desde a primeira hora
procuro no coração do homem.

Há tanta doçura nos teus olhos redondos
tanta independência nos teus gestos
tanta certeza em ti mesmo
que não duvido seres o ideal
que o tempo desflora...

Sei que tu és simples

que o teu mundo é puro cheio de nobreza

que ainda não aprendeste

na escola que deturpa os dons.

 

Os dons que ficaram no berço

e nunca mais se encontraram tão puros

depois da primeira hora

da infância perdida.

Menino

por isso te busco

a ti estendo a minha mão

para sermos camaradas

independentes

no rutilar dos dons!

 

 

 

ROTA LONGA

 

Irei na rota branca
da rosa de espuma
na hora madrugada
promissora de brisa.

 

Rota longa rota longa

 

Irei com a pétala ressequida

da tórrida paisagem

para além das distâncias secas.

 

Rota longa rota longa

 

Rota longa de espuma

vou irei espalhar minhas pétalas ressequidas
na hora madrugada ultrapassada.

 

Rota longa rota longa

 

Vou irei sem detença

para além das distâncias secas

em busca do abraço ancorado

na outra margem da curva líquida.

 

Rota longa rota longa

 

Vou irei na hora alta desta vigília
e a manhã clara acontecerá.

 

Rota longa rota longa

 

Vou irei contra todas as cadeias protestantes do meu

                                                               [rumo

em cada protesto que embarco
na ondulação que desatraca.

 

 

Página publicada em setembro de 2017


 

 

 
 
 
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