JOSÉ VICENTE LOPES
Nasceu na Cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, a 6 de outubro de 1959, com vivência em São Tomé e Príncipe, Angola, Portugal e Brasil. Reside atualmente na Cidade da Praia. É jornalista, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil.
Poeta, contista e ensaísta, os seus textos encontram-se publicados de forma dispersa, pela imprensa cabo-verdiana e estrangeira.
ANTOLOGIA
DRUMMONDIANA
A vida – sabemos – vai mal
A morte – coitada – nada tem a oferecer-nos de novo
Por isso
faz um poema josé
faz um poema suzana
faz um poema tomé
faz um poema ana
faz um
ROSA DOS VENTOS
O vício se alastra noite dentro
e a cidade se rende ao rumor de vozes
Todavia não era mais este o tempo sombrio
em que cada um se fecha dentro da sua dor
ou finge sorrir dentro da falsa alegria
Contornado o vazio da memória
apenas os pássaros enlouquecidos buscam agora
o rumo perdido da rosa dos ventos.
O DOM
Defronte à matriz do tempo
interrogo uma vez mais as noites
através da fala irônica dos loucos
ou do sorriso ingênuo dos filósofos
BIZÂNCIO
Foi por muito tempo um sonho ou um desejo
a cidade dourada onde o tempo inexiste
e a felicidade perdura para além dos dias
iluminados. Porém W. B. advertira já
that is no country for old man
Ou seja, não há nesta quimérica geografia
moeda de troca entre a inocência e a maturidade
E por conseguinte o que quando jovens enamorados
julgamos sentir nada mais é na verdade
do que ilusória e breve felicidade
TOTENS
Certos homens para provarem o seu amor a Deus
constroem catedrais, mesquitas, sinagogas
Outra classe estranha, a que pertence
o poeta cansado, olha para o passado
e sorri ao lembrar-se das resmas gastas
louvando paixões que deram em nada
O engenheiro olha as construções
e pergunta se terá garantido a salvação
o poeta o direito à imortalidade
Página publicada em outubro de 2008.
|