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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


FILINTO ELíSIO

 

 

Filinto Elísio Correia e Silva é poeta e cronista, nasceu na cidade da Praia, em Cabo Verde. É bibliotecário e administrador de empresas. Foi professor em Somerville, nos Estados Unidos. Foi assessor do Ministro da Cultura de Cabo Verde. Atualmente é Consultor Internacional e Administrador do Seminário “ A Nação”, em Cabo Verde. Publicou as seguintes obras: “Do lado de Cá da Rosa” (Poesia)  “Prato do Dia” (crônica) “O inferno do Riso” (Poesia), “ Cabo Verde 30 anos de Cultura” (Antologia), “Das Hespérides” (Poesia, Prosa e Fotografia) e “Das Frutos Serenadas” (poesia). Tem ainda a publicar “Sem Margens” (Crônica) e “ Praiademincidade” (Romance).

(...) Um poder ilimitado para criar imagens ao extremo os sentidos das palavras, apresentando novas e surpreendentes significações em poemas que transportam o leitor a desvendar um sujeito lírico profundamente existencialista, proposto a metaforizar tudo aquilo que alimenta seu lirismo
(...) Em Elísio, o excesso metafórico e o ardor semântico não são gratuitos, mas sim, frutos de uma cuidadosa e zelosa paixão pelo fazer poético. Intimista, lírica exuberante e universal, assim é a poesia para  e de Filinto Elísio. Um poeta que a reinventa, que mostra que a poesia ainda é a mais bela das artes (...) Ricardo Riso (Especialista em Literaturas Africanas. – Rio de Janeiro)

 

 ad vinhos

andei por califórnias ródanos douros
sonhei ânforas do antanho
deusas etílicas taças de âmbar
poetei absintos versejei labirintos
naveguei pessoas & nerudas
tive orgasmos a imaginar borges
acordei diante de brancos secos
amei com os tintos maduros
encorpados lambruscos
alentejos chãs
ad eternum
ou aqui
agora...

 

HAIKAI AGRIDOCE (POESIA III)

 

 

Ao Mito

 

a flor de lotus, o mel de abelha, a borboleta exótica...

ainda que cuidemos do nosso jardim de sonhos

no vinagre dos dias haverá sol para o cravo do amanhecer?

 

 

ACERCA DO AMOR

 

Do amor só digo isto:

 

o sol adormece ao crepúsculo

no oferecido colo do poente

e nada é tão belo e íntimo,

 

0 resto é business dos amantes.

Dizê-lo seria fragmentar a lua inteira.

 

De
 Filinto Elísio

LI  CORES  &  AD  VINHOS

Lisboa:  Letras Várias, 2009
ISBN  978-9899-59741-9

 

 

 

         Ruínas

 

         Remotas barcaças, pedaços de vime.

         Carcaças de tartarugas, rugas de vidro,

         Pegadas de ti ou de ninguém, pedras.

         E velas que hasteiam tantos náufragos...

 

         A solidão que principia o fulgor do mar,

         Em tempo de estio e de chuva, o clamor

         Das ondas no rendilhar das espumas

         E as ruínas dos álamos e dos ventos...

 

         Tudo isso és tu, sândalo de mim, atear

         Teu fofo no cismado, no qual crepitam

         Ânfora e querubim, incensos antigos...

 

         Ardores e quero sim, grandes amores,

         Astros nublados, armaduras e pecados,

         Gretas e terrores, pescados dourados...

 

 

         Viagem

 

         Em torno da odisséia das ilhas, creio levar

         Neste puro desejo que me transcende, a senha

         E a palavra-chave de os labirintos serem aqui

         Simples lugares de passagem, apenas paisagem...

 

         O andarilho palmilha todas as dunas, areias

         De intermináveis desertos e todas as ondas

         Que os oceanos concedem, quando furibundas

         ou, mesmo, serenadas e das praias acariciadas...

 

         Sem culpa, nem sina – ou de job puro devedor -,

         Percorro de lés a lés o mapa que é de ti e do mundo

         Como quem responde à morte o saldo estival...

 

         Como quem salta para a eterna idade da vida

         E fica suspenso entre a estrela e sua cadência
         A riscar, de viajar tão-somente, o céu da noite...

 

 

 

Pluma na Lua

 

         Para Nancy Morijón e Omar Camilo

 

 

         Tendes vós, com mesuras retesadas, a noite

         Com que o judeu, de Shakespeare, dita ali

         Sua injustiça, profana ou santa, em Veneza

         E encanados fostes do Verbo, e em primo frutos...

 

         Fostes, das tremeluzentes estrelas, a cadente

         E a rápida trajectória do risco e do cisco, ao micro

         Olhar de um campónio aos vastos campos

         E a mão incerta que à linha o peixe aguarda...

 

         Poetas, como pescadores na lua, e em pluma

         flutuam no jusante das plavras e a medra,

         ora pedra, ora Fedra, à sombra de sua metáfora...

 

         Em primo ou sopro derradeiro, Esopo ou átomo,

         Ilhas irradiadas no espaço anil e vão do mar,

         Sois aqui, dados frutos, meus implacáveis...      

 

 

 

Cidade 2  

 

         vejamos metáforas vejamos pregões

         vejamos néons vejamos acrílicos

         pedras blocos cirílicos catedrais

         sirenes dos semáforos o minarete

         se és muçulmano dos vitrais

         se és surfista ou sefardita

         mais pedras mais blocos

         mais gruas mais turistas

         mais terroristas mais poetas

         vejamos os graffitis

         vamos comê-los

         vamos comer denises

         comamos metáforas

         pregões...

 

 

 

Decifrar a pedra

 

         Nem sempre me é fácil decifrar

         Toda a fruta que, em teus lábios,

         Sabe tão-só a beijos e carícias

         Quão amiúde o poemas por dizer...

 

         Nem sempre posso, do teu olhar,

         Mirar o voo que nele se deseja

         - Entre magenta, azul e violeta -,

         E dele acalentam as cores furtivas...

 

         Pôr as mãos sem tocar ao rente

         Que são pêlos de ti e do infinito

         E sem roçar, seja de leve, a lua ...

 

         Sorver os sais, o suco das flores,

         Os vinhos de nada, os halos de pão

         E é pedra o que, de segredo, madruga...

 

Visita de Filinto Elísio à Biblioteca Nacional de Brasília. Dentre os poetas

        

Visita de Filinto Elísio à Biblioteca Nacional de Brasília. Dentre os poetas presentes, destacamos: Jollson Portocalvo, Paulo Kauim, Javier Iglesias e Antonio Miranda. Ao centro, o poeta visitante. (14/04/2010)

 

Página publicada em outubro de 2009; ampliada e republicada em abril de 2010


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