TRAJANNO NANKHOVA TRAJANNO
Jordão Augusto Trajanno nasceu em Luanda aos 12 de Dezembro de 1958. Obras Publicadas: «A Morte do Pão» (1993), «Fronteira da Lágrima» (1995), «De que Lado Está Deus», Menção Honrosa do Prémio Sagrada Esperança, «Terra Nova» (2000), «Pedestal de Argila» (2001), «Melodia da Agua», Prémio do Concurso MPLA Dr. Agostinho Neto (2003) e «Caminhos da Mente» (2004).
TODOS OS SONHOS - Antologia da Poesia Moderna Angolana. Org. Adriano Botelho de Vasconcelos. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005.
1ª. Balada para devaneio das sementes
tudo que há para além das mãos são factos
talvez infância
talvez lembrança
enumerar algas enumerar ancas enumerar pragas
é inútil não reconhecer o grito dos olhos
tudo que há para além das mãos são factos
onde se esconde o repicar dos sinos dúbios sinos
todos os sinos levam-nos a mesma ideia
manto de prece sobre nobre cidade
arquitectura de carne tempo templo e voz
insígnia e vinha
demência sacra e vinha
rito dissonância e vinha
ante o mel de chuva na pele da uva que já é celeste
tudo que há para além dos beijos são inúteis segredos
memórias descodificadas no útero das águas
mágoas inocentes nos passos das aves
insígnia e vinha
demência sacra e vinha
túneis nubentes anéis de cera e vinha
tudo que há para além das estrelas da mão dela
são pomos que amamentam o prana da alma da terra!
memórias descodificadas no útero das águas
mágoas inocentes nos passos das aves
insígnias e vinha
túneis nubentes anéis de cera e vinha
tudo que há para além das estrelas da mão dela
são pomos que amamentam o prana da alma da terra!
2.a Canção fisiológica do tempo
dúlcido!...
nunca o dia esteve tão lúcido pela harmonia da cigarra
em meus pés
no convés desta tarde qualquer onde arde a alma
e a palma da mão de nocturna forma disforme
apascenta a rede na parede e no chão
de velho sonho de pão e espora
fora do ventre do tempo dentro da fragilidade da
vida
nunca o dia esteve tão lúcido
ante ilustre espantalho na insónia do espelho
côncavo espelho túmido de farelo amarelo
e a mão dela grudada ao juízo e ao martelo
a mão dela à entrada do milénio
se reconhece cansada desnuda calçada de luvas
nunca o dia esteve tão lúcido entre a mão e o
horizonte
oh alegre céu alegre infância alegre morte!
Mitos & epopeias
recuso-me acariciar o umbigo húmido do jazigo
com a rima da mesma lágRIMA ridente
ao longo dos olhos da demência
consciência esCAmoTEADA em vénus
pela ausência de vénus
as sombras deste lugar dédalo
derramam sOmBRAS sobre as árvores
todo dia
os jORnAIS mancham os jornais e as mãos
do dia todo dia
as insígnias jorram canções em pés escolhos
pela manhã hodierna mente
— recuso a mente
a mente da cédula e a cédula da mente
a mente do pão e o pão da mente
a dançar sobre o umbigo húmido do jazigo húmido
— recuso a mente
entre mim e o sémen resta-me a poesia
que inebria de ebriez a heresia dos mitos e epopeias
rasgando o véu infantil dos sonhos!
Ventre lúcido de luz
Procuro motivos para sorrir
nos lábios cerrados chegam rostos como ter
desejo e desejar bailar
sobre a palavra cristalizada no
Cálice dos dias
desfilam colmeias de chamas entre o esboço
e o poço
na palavra de mãos atadas
ao mamilo adolescente no crepúsculo do sonho
Em busca de ventre lúcido de luz eterna
como convém às abelhas lucidamente amarelas
nadar em rios de argila feminina
Pela libertação dos corpos e as frutas
Pela hibernação dos sonhos rejeitados e as frutas
entre lábios cerrados reflectindo em mim
um jardim de mulheres grávidas
e uma criança procurando motivos para sorrir.
Realidade exótica da idade da âncora
nuvens secas anunciam chuvas de um tempo errante
se cai no ventre do dia alguma folha seca em busca de mel
brada na palma da mão o gemido da alma
se não chove brada o gemido da terra se chove
insígnias
na idade máscula da âncora imersa
no peito sem leite numa paisagem de leite sem peito
medra recente e regente semblante prudente de aurora virtual plantado num chão de coroa ainda exilada
em ruas asfaltadas pela demência exótica da saudade
na marcha da âncora presente e exótica
ausente e exótica
inexistente e exótica presa a cauda de um cometa amortalhado
Página publicada em agosto de 2017
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