NDALU DE ALMEIDA ( ONDJAKI )
Poeta, artista plástico y actor. Nació en Luanda, Angola em 1977. Cursa acutalmente en Portugal. Licenciatura en Sociología.
Los poemas que siguen han sido extraidos de la obra TRAÇÃO A 4 POEMAS E UMA CORDA; TRACCIÓN A 4 POEMAS Y UNA CUERDA. Brasília: Edições Pilar; Montevideo: Bianchi Editores, 2002. 79 p. Incluye poemas de Roberto Bianchi (Uruguay), Ángela Ibañez (España), Onjaki (Angola) y Nina reis (Brasil).
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
ESPERAR O VENTO...
II
cresce a manhã...
essa aquarela bruta
que cobra ao mundo os seus
nocturnos frios.
cresço de manhã...
a minha ramela emana
nua
o cobre do mundo
os seus amarelos tons.
de manhã
Deus distribui certeiramente
os seus castigos.
odores
cores
amores...
(...)
Deus:
também eu desejo
esse castigo azul...
III
não sei dizer este azul que encaminha
os céus...
sei respirá-lo intenso
na vibração densa, descompassada
dos olhos que se entornam nele...
não sei morrer noutra cor.
antes esta tonalidade
assim-breve
assim-escorregadia
desintegrando a noite
reinventando o dia.
e eu...
eu não sei escrever este azul
que dá luz á manhã...
IV
há no silêncio do ar
uma paz autorizada...
um murmúrio lírico
no renascimento
de cada momento.
o pássaro brinca entre uma nota de assobio
e um sopro de vento.
a borboleta adormece — encantada.
(...)
para haver paz
há que caminhar silêncios.
V
quero o aconchego
da sombra.
da árvore.
a sua frescura
a sua candura.
quero o seu caule
sólido
a maciez da sua seiva
a dureza da sua raiz.
quero a paz das suas folhas
deitadas
deleitadas
adormecendo — na paz do tempo.
VI
no cântico longínquo das nuvens
cresce uma andorinha branca.
deforma-se
o mundo
para uma nova densidade.
sorri
a primeira gota de chuva.
este cântico das nuvens é
um bramido suave
que adormece os olhos
os olhares
dos bichos.
a andorinha cessa o seu voar.
a nuvem cessa o seu cantar.
a gota de chuva
densa
despede-se do mundo...
e voa!
VII
só na ilusão da asa
o ser se sonha.
seu degredo. sua afluência.
quantas vezes
sem consciência.
só no silêncio da asa
o ser se sonha.
pouco enredo. pouca ciência.
raras vezes
em abstinência.
só na solidão da asa
o ser se silencia.
XII – vento
és a casa dos pássaros.
és o não-chão. nem tremor nem homens nem calor. és o
aéreo que encandeia as nuvens e, num passo gêmeo, as
conduz.
és sedução genuína nessa textura que usas no mar. os
pássaros te freqüentam erráticos porque também és o
eco da poesia — a estranha densidade de nada pisar.,
o não silencioso.
o silencioso.
és o deserto que chove sobre o mundo
De
ONDJAKI
HÁ PRENDISAJENS COM O XÃO
(o segredo húmido da lesma & outras descoisas)
Rio de Janeiro: Pallas, 2011. 70 p.
ISBN 978-85-347-0464-9
INSCRIÇÃO
o inchaço do coração
facilita o despalavrear.
a liberdade pode advir
de uma veia.
com sangue também
se reescreve a vida.
o suicidado foi um apressado
para desconhecimentos.
a morte
ela é que espera por nós.
na vida pedincho
reindagação de cheirares:
em continuado aquestionamento.
a despalavreação
pode acrescer de uma vida.
QUANDO EU FUI CHÃO
PARA LÁGRIMATERRIZAGEM
de tanta, risada
a hiena ganhou vício
de lacrimealeijar.
porque um dia
exercitei-me de raiz,
compus-me de lamas.
a hiena passante,
desconhecendo.
e, quando parante, irrisonha.
(mas: para testemunhá-la
há que ser existido anedoticamente.)
enraizado para espreitações
— sub-hienado —
vitimizei-me de suas goticulares esferas,
íris desfalecendo humidades.
na provação, soube-me:
de tanto risar tanto
a hiena lacrimealeija é sementes.
sementes para flores salinas.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Nina Reis
II
crece la mañana
esa acuarela bruta
que cobra al mundo
sus nocturnos frios.
crezco de mañana
mis lagañas emanan
desnudas
cobre del mundo
su amarilla tonalidad.
de mañana
dios distribuye certeramente
sus castigos.
olores
colores
amores.
(...)
Dios:
yo también deseo
ese castigo azul...
III
no sé decir este azul que encamina
los cielos...
sé intensamente respirarlo
em vibración densa, desacompasada
de los ojos que le entornan...
no sé morir em otro color.
antes esta tonalidad
así-breve
así-escurridiza
desintegrando la noche
reinventando el dia.
y yo...
yo no se escribir este azul
que da la a la manãna...
IV
hay en el silencio del aire
una paz autorizada…
un murmullo lírico
en el renacimiento
de cada instante.
el pájaro juguetea entre una nota del silbido
y un soplo de viento.
la mariposa adormece — encantada.
(...)
para tener paz
hay que caminar silêncios.
V
quiero la ternura
de la sombra.
del árbol.
su frescor
su candor.
quiero su tronco
sólido
la suavidad de su savia
la dureza de su raiz.
quiero la paz de sus hojas
acostadas
deleitadas
adormeciéndose — en la paz del tiempo.
VI
en el cántico distante de las nubes
crece una golondrina blanca.
se deforma
el mundo
para una nueva densidad.
sonríe
la primera gota de lluvia.
este cántico de las nubes es
un bramido suave
que adormece los ojos
las miradas
de los bichos.
la golondrina cesa su vuelo.
la nube cesa su cantar.
la gota de lluvia
densa
se despide del mundo...
!y vuela!
VII
sólo en la ilusión
el ser se sueña.
su degradación. su afluencia.
cuantas veces
sin consciencia.
sólo en el silencio del ala
el ser se sueña.
poco enredo. poça ciência.
raras veces
en abstinência.
sólo en la soledad del ala
el ser se silencia.
XII – viento
eres la casa de los pájaros.
eres el no-suelo. Ni temblor ni hombres de calor. eres el aéreo
que encadena las nubes y, en un paso gemelo, las
conduces.
eres seducción legítima en esta textura que usas en el mar.
los pájaros te frecuentan erráticos porque también eres el
eco de la poesia — la extraña densidad de nada pisar.
el no silencioso.
el silencioso...
eres el desierto que llueve sobre el mundo.
A POESIA É PARA COMER: iguarias para corpo e para o espírito. Seleção de poemas Ana Vidal; coordenação editorial Renata Lima. São Paulo: Rabel, 2011. 252 p. 23,5x31,5 cm. Capa dura. Impresso em papel couchê matte 170 g/m2.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Intimidar o poema a ser raiz
era um poema lateral aos sentidos.
ganhava formato ébrio
ao nem ser escrito.
longe dos pensamentos
imitava uma pedra
[aí as palavras drummondeavam].
longe das lógicas
— com tendênca vagabunda —
o poema driblava lados avessos
das noites
e animais
[aqui as sílabas manoelizam, barrentas].
mas uma estrela nunca brilha
tão solitária:
encarece-se também de luandinar.
miar à couto,
esvair-se para guimarães...
era um poema carente de afectar-se
a ramos gracilianos.
assim alcançava
o estatuto
de raiz.
cheira, emitia brilhos tímidos
— fosse um pirilampo.
*
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Página ampliada e republicada em setembro de 2022
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