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MARIA CELESTINA FERNANDES
MARIA CELESTINA FERNANDES nasceu no Lubango, província da Huíla, para onde seu pai, funcionário público, havia sido transferido. Ainda muito jovem foi para Luanda, e nesta cidade cresceu e fez toda a sua formação. É Assistente Social e licenciada em Direito. Dentre as várias funções que exerceu, destaca-se o serviço prestado no Banco Nacional de Angola, onde chefiou o departamento social e posteriormente passou para a área jurídica, aposentando-se na categoria de subdiretora. Iniciou a carreira literária no início da década de oitenta.
É autora de uma vasta obra, com destaque para a literatura infanto-juvenil. Tem obras premiadas e algumas traduzidas para outros idiomas.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolano "Guaches da Vida", 2005. 593 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A CORALINA
Achei uma coralina
que brilhava na areia da praia,
fiz com ela um anel
Para meu dedo enfeitar.
Sobre a água do mar
coloquei minha mão,
para exibir aos peixinhos
meu dedo enfeitado.
Os peixinhos
que é à tona assomaram
se maravilharam,
fiquei orgulhosa
minha joia era bela!
Um último peixe,
surgido da espuma das ondas
— estranha figura indefinida —
tinha forma de peixe
mas não era peixe,
olhos de peixe
mas não olhar de peixe.
Esse peixe,
que peixe não era,
tocou minha mão
e enamorada fiquei...
Penetrou com intimidade
seu olhar em meus olhos,
afagou meus cabelos,
beijou em meus lábios
e comigo baixou
até ao fundo do mar.
No fundo do mar,
sobre algas gigantes,
nasceu
nosso grande amor...]
VENTANIA
São assobios agudos,
que escuto
Cada vez mais perto...
Ouço batidas na porta.
A janela estremece,
Sinto passos ligeiros.
Parece pessoa!
Pergunto,
— Quem está aí?
Ninguém responde...
— Eué,
— É Cazumbi...
Me arrepio de medo.
O assobio fica mais forte,
Abana tudo à minha volta.
As roupas agitam-se.
Cresce o medo.
O assobio torna-se agoureiro.
— Não, não pode.
— É Cazumbi!
— É Cazumbi!
A vidraça se estilhaça.
Esvoaça a cortina,
Através dela observa
O que se passa lá fora.
— Afinal! não tem Cazumbi...
É o vento que chama chuva!
Desapareceu o medo.
Contemplo a chuva que começa a cair
E raivosamente se enrosca no vento.
Desaparece o medo.
Contemplo a chuva que começa a cair
E raivosamente se enrosca no vento.
Esboço um sorriso.
Adormeço tranquila.
CANTO AO AMOR
Haverá alguém
que nunca sentiu o calor do amor,
alguém que não tenha amado
uma vez que seja?
Amar é viver
e quem não descobriu o amor,
ainda que não creia
está encurralado entre as trevas,
— dissociação, por isso,
da própria vida...
RODA DAS FLORES
A rosa deu a mão ao cravo,
O cravo à margarida,
A margarida ao malmequer.
Todos de mãos entrelaçadas Formaram uma roda.
Era uma roda viva
Onde todos rodavam, rodavam.
Era uma roda alegre
Onde todos cantavam, cantavam.
A roda rodou, rodou
Iluminada pelo luar da lua cheia
Que inspira os pensadores,
Que desperta as paixões.
A roda que rodava, rodava
De repente parou de girar...
Desentrelaçaram-se as mãos.
A rosa abraçou o cravo,
A margarida o malmequer.
Era, então, a roda encantada
Dos pares que giravam, giravam
Em torno de si mesmos.
Era a roda dos enamorados.
Página publicada em agosto de 2020
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