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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


MANUEL GUEDES DOS SANTOS LIMA

 

 

 

Nasceu em Bié aos 28 de Junho de 1935.

Estudos primários em Vila Teixeira de Sousa; secundários e universitários em Portugal e na Suíça, tendo doutorado em letras pela Universidade de Lausanne.  Desertor do Exercito Português e fundador do Exercito Popular de Libertação de Angola (braço armado do Movimento Popular de Libertação de Angola) e seu 1° comandante-em-chefe.

Professor universitário;docência no Canadá, França e Portugal. Presidente do Movimento de Unidade Democrática Angolana para a Reconstrução (MUDAR).Vive em Portugal.

 

Obras:  Kissange (poemas); As Sementes da Liberdade (romance);  A Pele do Diabo (teatro); Os Anões e os Mendigos (romance)

 

Poemas extraídos da obra: ROZÁRIO, Denira, org. PALAVRA DE POETA; CABO VERDE – ANGOLA. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.  ISBN 85-286-0675-9

 

 

ESCRAVOS

Os homens  acharam-se de peito ao relento,

sem terra,

em caminho,

homens sozinhos

acorrentados no terreiro

com os caminhos incógnitos do universo

traçados nos rostos atônitos,

homens de peito ao relento,

quissanges dispersos

nas insônias do mar.


 

EXPRIMO-ME PELO SILÊNCIO

 

Exprimo-me pelo silêncio

em torno de mim decretado.

Cumpro pena de ausência

por insubmissão

e reincidência.

Vivo no segredo sintonizado de quem me sabe.

Sou

na negação com que me afirmam.

Reconhecem-me omitindo-me,

Logo existo.

Por isso resisto.

O exílio é a Pátria

que me confirma

no meu país confiscado,

onde a Nação abortou.

Oiço-lhe os gritos

e como outrora

busco as sementes de uma nova aurora

entre as raízes

que ainda o são.

Estou presente

Queiram ou não

Os meus huízes.

 

 

O KWANZA

 

O Kwanza é um rio bonito

que  corre aflito

para Luanda, a catita.

Por onde passa recita

um  rosário de gritos.

 

O Kwanza é caseiro

e  às vezes molengão;

é um rio de papel

que escorre de mão em mão num tropel

o ano inteiro

a fingir que é dinheiro.

 

 

O TRATOR

 

Somos um povo que olha a terra

a menos de um metro do chão,

rins quebrados

peito fremente.

 

Somos um povo semeador

De pés magoados

Entre raízes e suor.

 

O nosso pai deixou-nos uma enxada

e um pedaço de terra favorecida.

 

Para a cultivar

o meu irmão pôs-se a sonhar

com um trator.

 

Do estrangeiro, prontamente,

lhe enviaram um estranho trator.

tantas rodas

tão grande motor!

 

O trator do meu irmão

tem na frente um canhão.

 

 

GUERRA

 

Dois meninos sentados

um  terceiro de pé

todos irmanados

na orfandade de um pé.

 

 

EXÍLIO

 

Tange, tange kissange

ele absorto

ela magoada.

 

E o sonho morto.

 

Toda a memória não é nada

para  tantos desenganos,

na larga factura  dos anos!

 

E a mente tão cheia

de tanta terra alheia!

 

Tange, tange kissange

recordar  não cansa

chorar não consola

nem os descansa

de pensar em Angola.

 

 

 

NOTA EXPLICATIVA SOBRE OS POEMAS

 

 

I – Ciclo do Desencanto Nacional

 

“Kwanza” – brincadeira poética em torno do Kwanza ( o maior rio de Angola), e a moeda nacional com o mesmo nome, uma espécie de caricatura de dinheiro, pois a  verdadeira moeda de Angola é o dólar.

 

“Exprimo-me pelo silêncio”  - poema de resistência ao regime marxista vigente.

 

“O  Trator” e “Guerra” – a condenação da guerra civil que tem flagelado o país.

 

“Exílio” – O regime e a guerra civil condenaram uma parte significativa da população  a abandonar o país.

(In “Boletim do Movimento de Unidade Democrática Angolana para a  Reconstrução”)

 

II – Ciclo da Negritude

 

“Escravos” – a memória do passa

(In “Antologia Temática de Poesia Africana” e “Kissange”, respectivamente de Mário de Andrade e do autor)

 

 

PRISIONEIRO COMS ESPINGARDA DE PAU

 

Menino negro
Analfabeto e roto
Vestiram-te para outros destinos
Que não o teu

 

Quero levar-te ao planalto
Num cavalo de vento
Colher o sorriso ardente
Das gentes do Bié

 

Menino soldado à força
A nadar num camuflado
Manda passear o "Leopardo"
E vem comigo brincar Em terras do Bié

 

Este poema é para te acordar Docemente

Ao lado da tua espingarda de pau

 

Que pena, menino meu, Que estejas morto!

 

 

 

O HÓSPEDE

 

Entre a régua e o esquadro alheios
Faltou o meu compasso
No traço de Berlim

 

Entre a máscara
E o rosto magoado
Sou cidadãó adiado
Em busca de mim

 

Homem paralelo
Do que não fui
Arrasto comigo
Memórias e interrogações
A terra inteira é minha casa
Sou hóspede dos homens.

 

 

CERTEZA

 

Aqui estamos,
Irmãos,

Enteados do presente

E órfãos do futuro

 

Aqui estamos,

De mãos dadas,

Os olhos cheios de

Amanhã

E na boca

O nosso grito maduro

Sobre as mordaças

 

 

 

SOBRE OS LUTOS

 

Aqui estamos

Companheiros,

Junto aos altares da pátria

Somando vontades e esperanças

Na hora magna

Da nossa certeza.

 

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2009; ampliada em julho de 2017

 

 

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