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LUÍS ROSA LOPES
Luís Rosa Lopes nasceu em 1954, em Luanda, e é da considerada geração de 80, do século 20, aquela que marca a transição entre a poesia militante e o país novo.
Publicou a sua primeira obra em 1983, um conto com o título “A Gota D’Água”.
Outras das suas obras são: Mu Ukulu Kituxilê Ku Mayombola” (contos, 2006); “Uma Maria João e Uns Knunca” (contos, 2009); “Oras em Eras de Ira e de Amor” (poesia, 2011); “Forças da Minha Lavra” (poesia, 2016), editada pela União dos Escritores Angolanos da qual é membro.
Recentemente lançou o livro
“Tsháhua Tsháhuilê” , escrito entre 1983 e 2017 em Abidjan, Capato, Cape Town, Curitiba, Dundo, Londres, Luanda, Lisboa, Paris, Namibe, Quibala, Rio de Janeiro, Shangai e durante vários voos de longo curso, como informou o autor.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolano "Guaches da Vida", 2005. 593 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Como grilo
O Grilo grela
Na gaiola
Cri, cri, cri, cri
O grilo grita
Os campos verdes
O capim macio
O orvalho fresco
A cova quente
O cio
Cri, cri, cri, cri
O grilo chora
A liberdade ida
A clausura activa
A solidão maldosa
O frio destino
Tão vivo
Cri, cri, cri, cri
Na gaiola
O grilo grela
Ódios sem fumo
Coloridas vinganças
Planos túrgidos S
onhos sem mundo
Tantas raivas...
Na prisão perto
Onde embate a dor do grilo
Também eu cri, cri, cri, cri,
Era
Está na hora
Veio a era
Uma era sem ter hora
Um ora a recordar a era
Heras trepando na hora
Horas correndo na era
E esta era de oras
Com horas cheirando a heras
Não são heras de mais horas M
as eras de grandes iras
Se não há eras com horas
Rápido para a nossa era
As heras vão virar iras
E esta era já era
Aviso a um poeta
Pobre de ti
Prematuro lançador de pensamentos
Ainda que eles
Em beijos de passarinho
Revoem
Doem
A quem não se arrepia
Intelecdualidade
Estribado
Em corações empedernidos
Sou facto, de facto
De aproveitamentos acomodatícios
Mas não sou só
Essoutros
Lavram mais e mais
Para que novos rebentos
De sabor e saber
Endurecido e inumano
Continuem a parir
Seres como eu
Desencorajados de falar
Sempre
Mesmo perante as injustiças
Perenes e sobrevoadas
Fugaz e diletantemente
Pela nossa indiferença
Somos Nós
A pretensa consciência
Depositários de heranças
Página publicada em agosto de 2020
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