LOPITO FEIJÓO 
                    
                    
                  Poeta e ensaísta angolano, João André  da Silva Feijóo nasceu a 29 de setembro de 1963, no Lombo, província  de Malanje, Angola.  
                  Mudou-se para Maquela do Zombo, onde viveu a infância, indo  depois para Luanda, onde viveu no Bairro do Cazenga, a partir da sua  adolescência. 
                    Licenciado em Direito pela Universidade  Agostinho Neto, em Luanda, o autor despertou para a poesia aos 22 anos de  idade. Na verdade, já em 1985, publicou o seu primeiro livro de poemas Entre o Écran e o Esperma, que, fruto de grande  aceitação por parte dos meios literários, recebeu uma "Menção  Honrosa" no concurso de literatura "Camarada Presidente",  promovido pelo INALD (Instituto Nacional do Livro e do Disco). 
                    Foi membro da direção da Brigada Jovem de  Literatura até 1984. Integrou posteriormente o trabalho coletivo do grupo  "Ohandanji", que, a partir daquele ano, começou a  publicar os seus textos na página cultural de O Jornal de Angola e  na gazeta Lavra e Oficina (da União dos  Escritores Angolanos) e que, posteriormente, como forma de ultrapassar as  dificuldades provocadas pela ausência de alternativas, recorreu a edições  policopiadas. Exemplo destas edições é a coleção  "Katetebula/Semi-breve" na qual Lopito Feijóo publicou, s/data, no  primeiro número, um texto poético intitulado "Me ditando". 
                  Biografia: https://www.infopedia.pt/ 
                    
                    
                    
                  
                  VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna  Angolana.  Luanda: União dos  Escritores Angolano "Guaches da Vida", 2005.  593 p.    Ex. bibl. Antonio Miranda 
                    
                    
                    
                    
                  Um canto do candôndor 
                    
                    
                  Solo: - A LUZ quando se apaga brilha mais  
                    Coro: - É a morte... é a morte 
                    
                  Solo: - SUKU/HUD se te chama passa então um grande  frio  
                    Coro: - E a morte... é a morte 
                    
                  Solo: - HUKU/SUKU em nome de Deus pai filho e  espírito santo  
                    Coro: - E a morte... é a morte 
                    
                  Solo: - KALUNGA/N'GOMBE tem duas mentes  primeiramente o 
                    sono segundamente 
                  Coro: - É a morte... é a morte 
                    
                  Solo: - PAMBA/N'ZAMBI nasceu um dia e não morre  mais C 
                    oro: - E a morte... é a morte 
                    
                  Solo: - A LUZ quando se apaga brilha. Brilha mais  
                    Coro: - E a morte... é a morte 
                    
                  Coro: - A MORTE... É A MORTE  
                    Coro: - É A MORTE... É A MORTE!!! 
                    
                    
                    
                  A nona brisa 
                    
                  No espaço sepultado pela ventura 
                  a Nona Brisa escorre intimamente 
                  ... qual menina(s) do(s) meu(s) olhos(s)... 
                  sacudindo as pétalas do aroma temporal em 
                    
                  escala profética ao fruir súbito 
                  das fricções encarnadas num ser qual quer nas 
                  hostes dos demónios pernilongos! 
                    
                  A Nona Brisa ilimitada pela dimensão erótica 
                  do corpo veloz traz no rosto 
                  a extensão do sangue e o exercício do pudor 
                    
                  memorial 
                  de carne espessa ou sombra encantatória miserável  determinista no circuito dos anjos amantes testamentários da violência  mitológica! 
                    
                    
                    
                    
                  Elegia a um homem inver/tido 
                    
                  Disseram-nos que te viram passar pelas bandas  
                    luminosas de TOMBUCTU. 
                  Trazias no corpo vasta pasta amarela que te untaram  os  
                    deuses da real/idade africana. 
                    
                  No peito coração Mandinga e uma peça Yoruba  
                    Com barras de ébano caído dos céus fabulosos. 
                    
                  Acompanhava-te um espírito porém Yoruba  
                  por tio Kafuma kimbanda nojento. Virulento d 
                    e fuma miúda. 
                    
                  De carne humana contra todos: 
                                                - EIS-TE  PRESENTE!!! 
                    
                    
                    
                    
                  Na rota de Banguí 
                    
                  Jaz cadáver dolhos vivos na rota de Banguí 
                  levita leve mente em razão dos antepassados 
                  do túmulo a mãe dele saúda o omnipotente  N'SIN GUI 
                    KA-HALLA 
                    
                  O Kilimanjaro está bem perto 
                  bebe melhor as na zona dos grandes lagos 
                  tão bem vou além... 
                  - ABENÇOE-ME KALUNGA N'GOMBE NA ROTA DE 
                    BANGUÍ 
                    
                    
                    
                    
                  Colmatando sombras que deveras/mente  
                  (de passagem pelo Benin) 
                    
                    
                  Tal corpo que trazes contigo é de terracota  
                    apalpei-o de passagem pelo Benin 
                  no ano zero depois de N'PHUMO e sublime  companhia de  
                    Marikota 
                  para vinho de palma não serve por mim  
                    
                  andarilho teu corpo faz-se presente 
                    comunga 
                                                                    ando na dor do ente  
                    atravesso rios por pontes de sisal 
                  no ano zero depois de N'PHUMO e sublime  companhia de  
                    Marikota 
                  (colmatando sombras que deveras/mente!) 
                    
                    
                    
                    
                    
                  1 
                  Sua sombra nua  
                    lua pouca boca  
                    meia culpa meia lua. 
                    
                    
                  2 
                  E quando a terra o sol  
                    }nasce de vez (atrevida)  
                    sua imagem apeada no horizonte 
                    
                    
                  3 
                  Mui dino mui dina  
                    santos na terra  
                    parabólica porque circular. 
                    
                    
                  4 
                  Malembe malembe mulemba  
                    ponta negra no astral  
                    África Austral de pedra e cal 
                    
                    
                  5 
                    Gaivota verde gravata vaca 
                  cara de faca afiada 
                  carne vaga ou maratona avulsa. 
                    
                    
                  6 
                  Menino melindre  
                    cem mil sem pai  
                    sem pão nem mãos. 
                    
                    
                  7 
                  Construção de tecto  
                    in tacto. 
                  Contrição. Aliada obstrução.  
                    
                    
                  8 
                  Algures 
                  sexteto em dom menor  
                    avezinha minguando 
                    
                    
                  
                  DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE  POESIA.         ANO  XX – No. 30.  Editor Bilharino.   Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi.  Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000.  200  p.   No. 10 787      Uberaba, MG – Brasil.  Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p.                   Ex. biblioteca de Antonio  Miranda 
                    
                   SISTEMA DE EQUAÇÃO TRI-DIMENSIONAL 
                    DUM MISTÉRIO A DESVENDAR 
                    
                   1 — 2 Variável S: 
                     
                    Tanto tempo são todos os dias da  manhã 
                    A tarde e a noite no SUL quando  chove. 
   
                    2 – Variável C : 
                    São todos os tempos no CENTRO de  todos 
                    os dias e deste tema por  (a)bordar... 
   
                    3 – Variável N: 
                    (e porque) 
                    são todos os tempos de colheita se  a 
                    ironia ancestral da vida troveja  sobre 
                    o sempre também a NORTE da  humanidade? 
   
   
                    CARTA AD´AMOR A UM(A) JOVEM 
                      (BURKINABE) 
                       Quatro  quadras quadradas 
                        são para quem(?) 
                        escrevo/o desencontro da alma  acutilante 
   
                        simulação ébria convém 
                        nos 
                        que não sejam 
                        forçadas. Que não sejam rimadas. 
   
                        Quatro quadras quadradas, 
                        relvadas. De palavras ousadas 
                        o 
                        à ritmi   cidental 
                        a 
                    
                   são para  quem foste o embalo 
                    do povo inteiro, que pouco vê, 
                    e está com o poder, aos nossos  olhos 
                    quadrado, qual quadra angular  geometricamente 
                    inexistente! 
                       
                   
                   MAL/DITO SONETO DE AMOR 
                     
                    Trepadeiras  pragas. Mortos e feridos 
                      cortinas semelhantes 
                      como em templos jazidos 
                      misteriosamente, evaporam-se os  cantantes 
   
                      a olho crú são bem visíveis 
                      os desastres da guerra 
                      tormento/sofrimento, quase já  tudo emperra. 
                      — inquietações de quem espera  mudanças possíveis 
                       
                      leitores de poesia curtem só  estâncias    
                      matando assim incríveis  distâncias 
                      entre povo e governantes. 
   
                      Entre tanto, prometeram  crepúsculos 
                      e como d´antes  cintilantes 
                      categoricamente aprimoram: —  Minúsculos! 
                    
  
                    
                  Página  publicada em agosto de 2020 
                
  |