O RESTO
Já não sou mais nada, já não me sinto nada
Já não precisas de minha voz,
Pois tendes a minha escrita.
Já não precisas de meu carinho,
Pois tende o meu amor.
Já não precisas do meu querer,
Pois tendes o meu sentir.
Já não precisas de mim,
Pois tens-me na mesma.
Prescindiste-te do meu ser,
deixaste-me vazia por dentro
como o invólucro de uma bala
a quem lhe foi retirada a pólvora;
é somente lixo químico.
Como eu sou um lixo genético,
fomos ambos disparados,
consumidos por dentro sangue
e alma afora na desventura de
um prazer alheio e hoje, já não somos
queridos, apenas tidos.
Já não somos uma equação certa,
Unívoca ou biunívoca, deixamos de
Sê-la, desde o momento que passei a ser
"o resto".
O ACASO DA VIDA
Quem sou? ... onde estou?
Não serei, por acaso, mais um dos acidentes
da vida que por desatenção às
coisas lhe foi retirada a alma?
Ou não serei aquela tocha que por falta
de combustível apagou-se?
Não serei ainda, uma lágrima caída
do rosto de alguém que procura
recanto em braços de outrem?
Não serei... não serei, aquela
a quem, teu coração procura,
a quem tua alma almeja,
teus braços desejam e
cujo nome tua boca pronuncia?
Então quem sou...?
Se na calada da noite meu grito não ouço,
Na penumbra minha sombra não vejo
Nem na clareza do dia meu corpo não sinto.
Procuro, procuro, não ouço nem o bater
Do meu coração. Meu Deus...!
Que faço eu aqui, onde nada faz sentido.