JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
José Eduardo Agualusa nasceu no Huambo aos 13 de Dezembro de 1960.
Obras publicadas: "A Conjura" (1989); "D. Nicolau Água Rosada e Outras Estórias Verdadeiras" (1990), "Coração dos Bosques" (1991), "A Feira dos Assombrados"(1992), "Lisboa Africana" (1993), "Estação das Chuvas"(1997) e "Nação Crioula"(1997).
Extraído de:
2011 CALENDÁRIO poetas antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais
/ Caixa de cartão duro com 12 conjuntos de poemas, um para cada mês do ano. Os poetas incluídos pelo mês de seu aniversário. Inclui efígie e um poema de cada poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns de Portugal. Produção artesanal.
Extraídos de
TODOS OS SONHOS - Antologia da Poesia Moderna Angolana. Org. Adriano Botelho de Vasconcelos. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005
Malisela Benjamim Moloise
Fazia sol
E um silêncio muito manso
Nesse dia.
Fazia Sol
E a tarde corria plácida e quieta
Quem diria
Que nesse dia matavam um poeta
Nesse preciso
Nesse exacto dia.
Nkosi Sikelela África
Trago o corpo tatuado
Com figuras de guerra, trago um javite
Preso à cinta
E uma lança na mão.
E trago o desespero inteiro desta terra
No coração.
Trago os dentes afiados par o combate
Trago uma flecha nos dentes
E um arco na mão.
Trago os Kissondes e as serpentes.
E uma ferida aberta no lugar do coração.
Baía dos Tigres
Sobre o teu corpo pálido
Suado
Tubarões sem dentes apodrecem
Presos ainda às redes.
Em pleno sol as casas
Morrem de sede.
Herói até aos Dentes
Claro que sorria
Nada sabia da Morte
Nem de como é frágil o corpo de um homem
Um tiro, um corte.
Qualquer coisa.
E dormem!...
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. ANO XX – No. 30. Editor Bilharino. Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000. 200 p. No. 10 787 Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
É DISTO QUE FALO
Falo do risco do poeta se misturando com o azul
dos ventos
(e das sombras que caem num murmúrio lento)
Falo desta morte por demais antiga
Repetida
E da terra prenhe de vida.
É disto que falo.
MUANA-PUÓ
I
Conhecer quem para além de ti
nos fita
Para além dos teus olhos onde
Só o silêncio habita.
II
Conhecer esses olhos
Que em seu próprio silêncio se sepultam
Conhecer os rostos
Que atrás do teu se ocultam.
III
Conhecer através de ti quem te esculpiu
a forma
E em teus olhos os seus deixou escritos
Que em silêncio nos olham perpetuando
um tempo
Como o eco perpetua o grito.
Página publicada em fevereiro de 2011; ampliada em julho de 2017
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