Foto: http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura
JOHN BELLA
Escritor e jornalista angolano, de nome verdadeiro Jorge Marques Bela, nasceu a 30 de setembro de 1968, em Luanda, no município de Sambizanga.
Depois de terminar os ensinos primário e secundário, fez formação em Jornalismo no Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEI) e veio a exercer a docência, como professor primário em Luanda.
Membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), exerce funções como secretário para a Esfera Cultural e Financeira.
Integrou, como muitos outros jovens escritores seus contemporâneos, o coletivo literário " ohandanji ".
Enquanto jornalista, colabora em vários jornais e revistas nacionais, nomeadamente com o suplemento do Jornal de Angola intitulado "Vida e Cultura", com o semanário Correio da Semana e com a revista Mwanya, órgão literário da BJLA.
Escritor da "novíssima geração", denominada por Luís Kandjimbo como a "Geração das Incertezas", Jonh Bella reflete, na sua poesia, as angústias e desilusões decorrentes de uma situação de fome, de miséria, de corrupção e de opressão que a Independência do país já deveria ter banido.
Na linha dos poetas da sua geração, os seus textos são perpassados por um núcleo temático recorrente, assente numa desilusão angustiante do "eu lírico" e que resulta de uma crise profunda face à utopia de uma Angola livre e independente, capaz de proporcionar os mais elementares direitos aos seus cidadãos.
Com uma visão crepuscular da realidade, e como a grande maioria dos poetas da geração de 80/90, o autor recorre à metáfora do mar como o espaço privilegiado de confidências e de lamentações. Associado ao mito de Kianda (a deusa das águas), este espaço surge em John Bella como o espaço tumular que simultaneamente é capaz de conter os "poderes mágicos" que dão vida aos cultos africanos: "O mar/esqueleto da vida/vem beber na pedra da saudade(...)". Desta forma, mar e mulher, unidos como um só elemento, simbolizam por um lado a frustração e desânimo do sujeito poético e, por outro, a esperança do cumprimento da utopia.
Membro da União de Escritores Angolanos (UEA), escritor e jornalista prestigiado, colabora nos programas radiofónicos "Boa Noite Angola" e "Um jovem, uma cultura" da Rádio Nacional de Angola (RNA) e no programa televisivo "Njila", falado em kimbundu (língua nacional), da Televisão Pública de Angola (TPA).
A sua obra figura em várias antologias, entre as quais a Antologia do Mar na Poesia Africana de Língua Portuguesa do Século XX , coordenada por Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco e editada pela Editorial Kilombelombe, aquando das comemorações do 25.º aniversário da independência de Angola.
Em 1995, publicou o livro de poesia Água da Vida , prefaciado pelo reconhecidíssimo escritor angolano Uanhenga Xitu, com o qual ganhou o prémio Galax, em 1996. Em 2001, publicou Panelas Cozinharam Madrugada e o conto infantil Caixa Mágica , e, em 2003, lançado em Luanda, o Cântico Romântico à Paz . Fonte: /www.infopedia.pt
MEUS OLHOS MENSTRUAM
Meus olhos menstruam
dores diáfanas do tempo
que vou caminhando em mágoas.
Horas misteriosas acontecem
amizades distorcidas permanecem
e o mar do meu sol
vem por vezes (so)correr-me
abraçar, fingir que está tudo bem
quando por dentro é verdade
o fruto nada em frangalhos.
AGORA SIM... NÃO É POESIA
Venham ver por favor
hipocrisia do ovo
nesta terra de graça
são poetas que gritam
por um pouco de justiça
são pedra que dizem
não ter nada para dar
ah! e o diamante
nos olhos da minha namorada???...
o ouro jorrado preto
no caderno dos políticos???...
a (des)graça nesta terra
só cai do "empire state"
direito à caneta do poeta???...
oh, por favor
inventem outros planetas
que até mesmo em Marte
o poeta lá torra milho
depois o reserva paciente
em jura gaveta escolhida
mas venham por favor ouvir
gemido dessas areias
já invadiram mar
agora vão a caminho
das pálpebras lunares
e eles repetem...
Agora sim... não é Poesia
é desabafo!...
EMBEBEDARAM A CHUVA
Acorrentaram a madrugada
e...
com vinho feito de sei lá quê
embebedaram o período da chuva
este... não sangrou
viu a respiração do sonhos chocar realidade
e na verdade
lama produzida pelos lábios da flor
enfeitiçou de odor a dor e as paredes moribundas
mesmo assim...
chuva en cantou noites
Página publicada em julho de 2017