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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

Foto:  angola-online.net

 

ISMAEL MATEUS

 

Nasceu na Província de Luanda aos 6 de Julho de 1965. Jornalista e poeta. Autor dos livros "Bué de Bokas" (1999), "Os Tempos de Ya Ka Ya" (2001), " Unita que Futuro" (2002), "Sobras de Guerra" (2003, " Laços de Sangue" (2011). O primeiro livro de poesia que publicou foi "Experiência de Sentir" (2005).

 

 

A CIDADE NEGRA

 

Os hipócritas dormem
No percurso que a memória lhes dá
A paz tardia por que outros morreram.
Os chulos na convicção do serviço público
Amam a perdição alheia
Para sujar serve a casa do vizinho.
Os ricos vesgos de ambição exibem-se
Exultantes com a escuridão geral
Que lhes permite o ganho.

 

Há na cidade Homens negros
Passados negros
Cânticos negros
Beijos negros

 

Os Estúpidos renegam o seu passado pobre
Para a nova condição só sem passado

Os políticos mortinhos pelo noticiário seguinte
Habitam os palanques pregando a palavra amiga

 

Há na cidade
Vidas negras
Casas negras.

 

 

QUANDO CHEGA O AMANHÃ?

 

Caminho para frente
Mas também para trás
Cada passo

Um recuo
Um momento.

 

No momento seguinte
Mora a consciência
Que se esconde
Em cada momento

 

Cada agora

Um hoje de ontem

Um ontem de amanhãs.

 

Um passo para frente
Mas também para trás.

 

Mas amanhã
Também será hoje
E hoje, ontem
E tudo novamente.

 

Um passo para frente

E sempre também um para trás.

 

O sonho passa à desilusão
O passado ao arrependimento
A lembrança à melancolia.

 

Na ilusão

Amanhã será melhor.
Na certeza
Ontem foi pior
Hoje não sei
Se melhor ou se pior.
Tão somente não sei.

 

Vou sabendo a cada dia
O sonho do amanhã
E a renúncia do ontem.

 

Vou sabendo a cada leitura
Que nada sabia ontem
Crédulo num amanhã
De todas as valias.

 

Só me falta
Perceber

Quando chega o amanhã
Se hoje... E sempre hoje.

 

 

A VIDA É CADA MOMENTO

 

A cada momento
Sou vários momentos
O que fui
E sou ainda
Depois de ter sido
O que penso ser

 

A cada momento
Faço da vida
Decisões e opções
Sentimentos e traições
Momentos ínfimos
Do sim e do não
Do vai ou fica

 

A cada momento

Sou o que anseio ser

A palavra que gostaria de ter dito

O gesto arrependido que me persegue.

 

A cada mil momentos
Um momento de ser
O momento.

 

 

Página publicada em julho de 2017


 
 
 
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