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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

HENRIQUE GUERRA

 

Nasceu em 1937, em Luanda, Angola. Escreveu com o pseudônimo Andiki. Estudou Belas Artes em Lisboa. Foi militantedo Movimento Popular de Liberação de Angola (MPLA) tendo passado um período preso por estas atividades. É membro da União de Escritores de Angola. Publicou poesia, contos e ensaios, e foi colaborador no  "Jornal de Angola", "ABC", "Cultura II" e "Mensagem".

Obras publicadas : Alguns Poemas O Círculo de Giz Bombó; A Cubata Solitária, 1962; Quando Me Acontece Poesia, 1977; A Tua Voz Angola, 1978; Três Histórias Populares, 1980 e Angola estrutura económica e classes sociais (1974).

 

        O MORINGUE

O sol que queima as folhas das palmeiras
E os pés caminhantes sobre a areia
O sol que traz o vento e afasta o peixe
Ele não esquentará a água do moringue.
não há sol no canto desta casa
Há sombras dos luandos que fazem as paredes
A areia do chão traz a frescura da terra
Os caniços dos luandos têm a frescura
Que trouxeram das terras do Cabiri
Quando, de andar nas canoas, voltamos do amor
E a garganta vem a arder como se era sal
A água do moringue sabe-nos como nada mais.

        E a quem nos pede, com o coração alegre,
Nós a oferecemos nas canecas de esmalte.

 

        CANTO DA PRISÃO

        aquele companheiro
saiu com lágrimas na garganta
e eu vi
que não chorava de tristeza
chorava com a inabalável certeza
que dos choros nascem risos
como braços fazem pão
e eu fiquei
especado na minha solidão.

        aquele camarada
ao sair da cela da prisão
levou
e deixou
o choro da certeza inabalável
de que os pés caminham em chão duro
de que os braços que se erguem
para fazerem pão
erguer-se-ão
para que haja trigo em vez de grades de prisão

                ... dos cactos nascem flores
canções brotarão sobre este muro

 

        ENTARDECER

        Um barco que passa uma ave que voa
Um azul que fica na retina
Um rosto que sonha numa canoa

        Um barco que passa uma ave que voa
Um desejo que fica pelo ar
Azul e penetrante como o mar

        Passa o barco lentamente
Passa a tarde passa a vida
E um vulto que ao passar canta baixinho

        Existe ao longe um ar tranquilo
Sossegado como Buda de marfim
Quem disse que ali era a cidade!

        Um barco que pausa uma ave que voa
Um azul que fica na retina
Um rosto que sonha numa canoa.

 

Página publicada em julho de 2017


 
 
 
 
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