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                  GERALDO BESSA-VICTOR 
                    
                  Geraldo  Bessa-Victor (Luanda, Angola; 1917 - Lisboa; 1985) foi um escritor angolano. Escritor,  poeta, ensaísta e jornalista angolano, Geraldo Bessa Vitor é natural de Luanda,  onde nasceu em 1917. Fez os seus estudos liceais em Luanda e passou a exercer  funções de empregado bancário. Mais tarde foi para Lisboa, tendo-se licenciado  em Direito e abraçado, desde a década de 50, a carreira da advocacia.  Jornalista reconhecido, enriqueceu com os seus artigos e crónicas as páginas de  vários jornais angolanos, entre os quais o jornal A Província de Angola, e foi  colaborador na área literária angolana, tendo feito parte do movimento  "Cultura I" e da revista Mensagem. Como poeta, Geraldo Bessa Vitor  assumiu os modelos temáticos tão do agrado da população do continente,  nomeadamente o amor, a beleza feminina e o poder do destino, enformando-os pela  medida nova do soneto, obedecendo à sua norma estanque no que concerne ao seu  esquema rimático e à métrica decassilábica que o caracterizam. Contudo, é justo  dizer que o autor soube também cantar e exaltar os motivos africanos e mais  concretamente os angolanos, como exemplificam os seus poemas "O menino  negro não entrou na roda", "Kalundu" e "O Tocador de  Marimba", os dois primeiros selecionados, em 1958, por Mário de Andrade na  sua Antologia. Em 1973, em Lisboa, anunciou o seu retiro do mundo literário.  Morreu, na capital portuguesa, em 1985. Em 2001, a Editora Imprensa Nacional -  Casa da Moeda compilou e editou toda a sua Obra Poética. Fonte: wikipedia 
                    
                    
                  O MEU CORAÇÃO BATUCA 
                  Meu  coração batuca ao ritmo e som  
                    das marimbas, quingufos* e quissanges.  
                    (O batuque nasceu comigo, o ser me invade, 
                    e sinto-o no meu sangue,  
                    desde essa hora, 
                    no movimento inicial da minha liberdade,  
                    no canto com que saudei a terra, a humanidade.) 
                    Dentro da minha alma canta e chora  
                    todo o grito dos muimbos** africanos.  
                    O fogo da queimada no capim 
  é a febre que me avassala,  
                    quando o teu corpo e o meu requebram na senzala, 
                    onde, uma noite, ainda monandengues***,  
                    fizemos bailar o amor. 
                  Neste  mesmo instante, na Europa longe,  
                    nos salões requintados de Londres,  
                    de Roma, de Paris, de Madri ou Lisboa,  
                    grupos de jovens, dançando e cantando,  
                    disfarçados, estão macaqueando  
                    a nossa batucada que no mundo ressoa.  
                    Eles cantam e cançam  
  — movimento e alarido,  
                    vozes e pernas... 
                  Mas nós  temos na carne e na alma, 
                    desde o primeiro vagido, 
                    o ritmo e o som deste batuque, 
                    a voz de África eterna.  
                    
                  *quingufo — tambor.      
                    ** muimbos — canções.  
                    ***monande- crianças. 
                   
                  
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