EUCLIDES MARIANO
Nasceu no dia 2 de fevereiro de 1962 no Golungo Alto. Obra
publicada: “Cânticos de Sobrevivência” (1995).
Geografia do tempo
Verteram-se as raízes na terra
o tempo arrefeceu os gritos
e nasceu o oiro que irradiou a gente:
Sepultamos a escuridão que reinou
erguemos paredes de alegrais na terra,
em breve, a alegria e a floração,
verteram no cântico do sortilégio,
e a luz se converteu em miragem
- àquela que enterramos ontem ...
Voragem
Vieram os oceanos atiçar viagens
nas ruelas floridas com sonhos
foi o hálito da chuva e da mortalha
sobre a morfologia dos passos.
A terra naufragou na humildade das línguas
que nasceu da ressaca das palavras _
e caiu como gotas sobre as cinzas
das manhãs rutilantes de profecias.
No chão o ião desligou-se da vida
na foz o sol desligou-se das flores.
Os deuses assim mesmo se restauraram
atearam frases sobre os sonhos ...
O Vento do Verão
Passou o vento do verão
num tom plebeu persuadindo
que a expressão do luar em trevas
seria a vida nas palhotas.
Vítimas da desilusão
depararam-se os homens que aplaudiam
o temporal do verão
desprovidos de grinaldas
que o vento lhes prometera
e num gesto de soslaio
trocaram olhares humildes
como na antiguidade ...
Nos olhos a floração da amargura
vivida no silêncio da lirurgia
coloria o estado de ser
dos homens.
O Homem lendário
Eis que surgiu uma voz de fama
grande tumulto nas terras do norte
fundou o motim com sua sabedoria
com sua percepção atiçou a ira.
Fazendo soar o protesto da sua voz
logo os suspiros dos extremos da terra
exalaram os desejos exilados na luxúria
que governava os espíritos vivos.
Todo o homem se irou e arrancou pela raiz
a cruel vaidade que cegava a gente
houve justiça na aflição do instante
alguns dos lacaios da luxúria pereceram.
Eis que devoraram a voz de fama
derramaram a escuridão da crueldade
sobre os anseias populares daquela voz
e pereceu o motim das terras do norte.
O Cântico da terra
O campanário da partida foi o sonho
com colheitas vermelhas e orgias.
O chão fora amanhado no templo dos deuses
em sonhos pregados nas folhas de papel.
Nas searas molhadas de devoção
a leiva ficou algemada de castigos.
O oiro negro foi a anunciação da terra
foi o cântico que nutriu os palcos
com sonhos lindos de trigo e mutação.
Diluiu-se a dissociação dos homens
a vegetação dócil dos véus do talismã.
Nas veias dos deuses floriu o tantã
que inflamou Ou o som da aragem na terra.

Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da Vida", 2005. 593 p.
Página publicada em junho de 2012 |