E. BONAVENA
Nasceu em Luanda no dia 26 de fevereiro de 1955. Obras publicadas: “ Ulcerado de Míngua luz” (1985) e “Limites da Luz” .
Dos Ventos da Lona
A chuva
Vai tornar a cair
Sobre
A minha aldeia
As bandeiras do milho
Voltarão a flutuar
Ao vento.
Teremos verde nos olhos
Os lábios molhados de leite
E o mugido dos animais
Nesse dia
Vou sair para a praça
Da igreja
E cantar
Um hino aos deuses.
Reunidos em família
A aldeia será
Iluminada
Pelos sorrisos dos seus filhos
De regresso dos tempos
Das tendas de lona.
Por agora,
deixa os sinos do teu corpo
tocarem todos,
deixa a vaga de vento
te levar para as portas do céu.
Poisa levemente os pés
na lã dos caminhos e
vai segura pela minha mão
que voltarás ao amanhecer
com as águas das montanhas
entre o coaxar das rãs
saindo do teu peito.
Os dias serão maduros
de azul, cânticos de amor e pão.
Haverá mel nos lábios
e em todas as esquinas
estarei
à espera de ti!
O Amanhecer das Águas
Procuro a luz
dos teus olhos
a transparência que se guarda
na alma,
como fruta sumarenta,
o feitiço que se insinua
no ventre.
Alcanço os trópicos
das tuas coxas;
kitande em fogo brando,
liberto
o vulcão que se esconde
no vórtice do teu corpo.
Cresço para a noite,
e rente às águas,
amanheço:
Volto ao início
da criação
disposto
ao pecado original.
O meu tempo é outro
Envio-te flores:
Rosas, tulipas, margaridas e narcisos,
Neste tempo de neve e luz.
É que a minha festa
É outra - a festa do corpo
Ausente e vivo como o fogo
Das lareiras deste tempo.
E, afinal, o meu tempo
Também é outro:
É o tempo do sol,
O tempo das acácias,
É o tempo do barro
Trabalhado pelas mãos
Do oleiro.
É o tempo da fruta madura
O tempo da fecundação,
O tempo do amor.
Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da Vida", 2005. 593 p.
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