DOMINGOS FLORENTINO
Pseudônimo de Marcolino Moco. Nasceu na província de Huambo, planalto central, na localidade de Chitue, antiga Vila Flor, a 19/07/53. Descende de uma importante linhagem de chefes tradicionais. Licenciado em Direito (Luanda). Foi Governador de Província, Bié e Huambo, Ministro da Juventude e Desportos, Secretário-Geral do MPLA, Primeiro-Ministro e Presidente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Obra poética: Raízes do Porvir, 1995, Luanda, União dos Escritores Angolanos.
UMA PLANATA, PLANTANDO SONHOS
no canto do fim do mundo
há uma flor
contando histórias
á porta da minha casa
há uma planta
plantando sonhos
SONHO, NO TÔMBWA
O meu sonho
é sonho de areias no deserto
é vento lento batendo
nas casuarinas sonolentas
em torno do Tômbwa
VEM, AMOR
vem, amor
vem
vamos sentir o frio dos meninos
que ficaram sem ninguém
vem, amor
vem
sob o braço prateado da noite de luar
ouvir o eco da morte e da vida
e ecoar
nossa grandeza
EM BUSCA DA FLOR, ALÉM
Porque procuras o Sol
no infinito
irei contigo às estrelas
à procura do Sol
Porque sentes o aroma da flor
no cimo da montanha
irei contigo além
em busca da flor
Porque vives na noite
de um dia para nascer
esperarei contigo
pela vinda da aurora
Porque morres sozinho
sonhando
viverei contigo
na morte pela vida
Raízes do porvir
Trago a nódoa do passado
no punho do presente
transponho montanhas na minha luta
de juventude tragada
na convulsão dos tempos
em busca do Futuro
Trago a nódoa do passado
na serra dos dentes procuro paz
sobre o crepitar de corpos insepultos
na noite de tragédia
grávida de esperança
Trago a nódoa do passado
nas raízes do porvir
venho de longe
gritando meus anseios
em cansaços semeados
disperso no tempo
Trago a nódoa do passado
no cântico ao Futuro
planto amor
sobre o drama da flor violentada
no chão do meu País
(Raízes do porvir)
Sonho, de amor
O meu sonho
e uma madeixa dos teus cabelos
sufocada ao luar de uma noite
cansada de amor
O meu sonho
somos nós, tu e eu
no corcel da vida
à procura do sol
Falo do sonho, amor
do nosso sonho
em que brincamos com crianças não paridas
com esperanças sangrando desesperanças
O meu sonho
és tu, Minda-a-Mulata
sonhando com a vida e morrendo
em tempo de fome farta
e a guerra a acabar
(ou a reatar?)
O meu sonho
é sonho de mar
as ondas indo e vindo
do fim do Mundo
as aves a voar
(Raízes do porvir)
Página publicada em setembro de 2009
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